Supostamente...
Ao escrevermos estas linhas está o País à espera da comunicação que Cavaco Silva proferirá após a suposta consulta que está a realizar há vários dias. Espera-se, supostamente, que o Presidente da República analise, supostamente de forma séria, os dados, acontecimentos e opiniões recolhidas. Supostamente decidirá em conformidade com os valores de que é supostamente o máximo guardião: a democracia, o interesse dos portugueses, a independência e soberania nacionais. Ou seja, supostamente, o Presidente da República, tendo jurado cumprir e fazer cumprir a Constituição da República, é um órgão de soberania alheio à vergonhosa encenação que tem conspurcado a política e a suposta discussão pública sobre a situação do País nos últimos dias. Por isso, supostamente, o Presidente da República, perante tão imundo espectáculo do PSD e CDS e dos seus respectivos chefes, decidiria, soberanamente e de acordo com tais valores que supostamente defende, revogar os irrevogáveis, dissolver a Assembleia da República e devolver a palavra ao Povo.
Como se disse, no momento ainda não conhecemos a decisão de Cavaco Silva. Mas os acontecimentos recentes dão-nos pistas e revelam até que ponto é que o grande capital e os seus «empregados políticos» se multiplicam em conluios, chantagens e falsidades para aplicar a solução cozinhada. Usam de tudo: a encenação, a teoria do medo, o obscurantismo, o seu poder e propriedade na comunicação social, encenações envolvendo a hierarquia da Igreja... e claro, a pressão dos «directores» da União Europeia. Isso ficou bem demonstrado na reunião do Eurogrupo, quando a ministra Albuquerque, o sinistro Schaüble e o presidente do Eurogrupo agiram como se Cavaco já tivesse dado «a luz verde» e este nem sequer reagiu à suposta afronta aos seus supostos poderes.
Se o Presidente da República decidir pela convocação de eleições o leitor poderá reler este artigo retirando os «supostos» e «supostamente» do texto. Se o não fizer então fica claro que Cavaco Silva é Presidente da República Portuguesa apenas supostamente, porque na realidade, nesse momento, deixou de o ser e ficará irremediavelmente ligado às consequência da sua suposta decisão.