Atenção ao que dizia o Eça

Aurélio Santos

Os episódios e cenas políticas da semana passada fizeram-me lembrar uma anedota do actor Solnado, fazendo o papel de um avô completamente surdo. Quando rebentou o fogão de gás e a casa ardia, gritava para os netos: «não batam com as portas!»

(O papel de avô surdo caberá talvez ao Presidente da República).

O balanço dos destroços que este Governo PSD/CDS deixa no nosso País é aterrador.

Temos uma das dez mais elevadas dívidas soberanas do mundo, um elevado défice orçamental e a nossa dívida continua a ser considerada uma das de maior risco. Temos a 3.ª maior taxa de desemprego da OCDE, a 2.ª maior taxa de trabalho precário da zona euro, os salários mais baixos da Europa Ocidental. Somos o 3.º país com mais desigualdade da UE, e o risco de pobreza ameaça mais de 43% da população. No 4.º trimestre de 2012 Portugal registou a maior queda do PIB de toda a União Europeia. Somo também o terceiro país da OCDE com mais corrupção, descemos 10 lugares na tabela, o que significa que a corrupção vai aumentando. Temos um nível de vida inferior em mais de 25% da média europeia, piores do que a Grécia e a Espanha.

Em 2012 tivemos uma emigração nunca antes vista (mais de 120 000 pessoas segundo dados do INE) pior do que a registada nos negros anos da guerra colonial (110 000) em 1961. No ano passado tivemos ainda o mais baixo número de nascimentos registado nos últimos 80 anos, ou seja valores iguais aos de 1930. E só nos primeiros meses deste ano saíram de Portugal mais de 23 000 crianças. O número de famílias consideradas judicialmente em falência quadruplicou.

O governo PSD/CDS deixa o País de rastos.

Quando a quadrilha Coelho/Portas apareceu apresentando a sua coligação recauchutada, era caso para dizer: estão mortos, mas ainda não o sabem...

Em 1871 dizia Eça de Queiróz nas «Farpas»: Há muitos anos a política em Portugal apresenta este singular estado: 12 ou 15 homens sempre os mesmos, alternadamente, possuem o poder, perdem o poder, reconquistam o poder, trocam o poder...

Está na hora de não dar razão ao Eça.




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