Um País dependente
No âmbito da Campanha Nacional do PCP «Por uma Política Alternativa, Patriótica e de Esquerda», realizou-se, no dia 7, em Coimbra, um debate sobre «As desigualdades na sociedade e no território – dimensões do desenvolvimento capitalista».
A política de direita conduziu o País ao declínio
Esta iniciativa contou com as intervenções de Agostinho Lopes, do Comité Central do PCP, de António Avelãs Nunes, professor catedrático jubilado, de Sérgio Ribeiro, economista, de Madalena da Fonseca, geógrafa, e de Jerónimo de Sousa. O Secretário-geral do PCP, na sua intervenção, alertou para as «extremas dificuldades» que o País enfrenta, agravadas nos últimos dois anos, após a assinatura do pacto de agressão subscrito por PS, PSD e CDS, e que se traduziram «numa grave recessão económica, num desemprego avassalador e num continuado agravamento da situação social».
Como salientou Jerónimo de Sousa, «estas políticas e opções têm servido uma estratégia de reconstituição do poder económico pelo grande capital e de destruição dos direitos sociais, económicos, culturais e políticos conquistados pelo povo português com a Revolução de Abril».
«A política de direita, prosseguida por sucessivos governos desde 1976, conduziu o País ao declínio, à estagnação e recessão económica, ao retrocesso social e ao avolumar das injustiças, ao alastramento da pobreza e ao regresso à emigração para milhares de portugueses», afirmou, condenando a «destruição de grande parte do aparelho produtivo», o que levou «a que sectores produtivos fundamentais – a agricultura, as pescas e importantes sectores industriais, nomeadamente os da indústria de base siderúrgica, metalo-mecânica pesada e indústria naval – vissem o seu peso no Produto Interno Bruto Nacional baixar para níveis preocupantes, com óbvias consequências no agravamento dos nossos défices estruturais – agro-alimentar, energético, científico e tecnológico, entre outros».
País desigual
Fruto de sucessivas políticas neoliberais, «Portugal é hoje um País mais frágil, mais pobre, mais endividado, mais dependente e mais desigual», referiu o Secretário-geral do PCP, lembrando que, por exemplo, em 1974, 1975 e 1976 o peso dos salários no Rendimento Nacional ultrapassou os 50 por cento, atingindo em 1975 os 59,5 por cento.
Hoje, segundo os últimos dados disponíveis, o peso dos salários é de apenas 38 por cento, sem contar com as várias políticas aprovadas para o corrente ano, com cortes consideráveis nos salários, o que, entre os 30 países da OCDE, coloca Portugal só à frente da Turquia e do México. Na Europa, segundo o Eurostat, o nosso País apresentava, em 2011, os maiores desequilíbrios na distribuição de rendimento.
Números alarmantes
- 24,4 por cento dos portugueses, cerca de dois milhões e 600 mil, estão em risco de pobreza ou exclusão social;
- 20 por cento da população com mais de 65 anos está em situação de pobreza, assim como 34,5 por cento dos agregados familiares constituídos por dois adultos e três ou mais filhos dependentes;
- 36 por cento da população desempregada, 7,9 por cento da população reformada e 10,3 por cento da população empregada vivem abaixo do limiar da pobreza;
- As cem maiores fortunas do País, grande parte delas colocadas em paraísos fiscais, equivalem a 20 por cento da riqueza nacional;
- 32 por cento da população empregada tem um vínculo precário – só a Espanha e a Polónia ultrapassam Portugal na precariedade;
- Cerca de 100 mil trabalhadores licenciados exercem funções não qualificadas ou pouco qualificadas;
- No final de 2012, 149 mil licenciados encontravam-se na situação de desempregados;
- O desemprego jovem atinge já os 40 por cento. Milhares de jovens estão a ser empurrados, literalmente, para a emigração.
Caminhos da desigualdade
O Secretário-geral do PCP deu ainda conta de que o pacto de agressão está a «conduzir o País para o abismo e a agravar todos os seus problemas», e acusou o Governo de «mistificação da realidade» e de «insulto à inteligência dos portugueses». «Falam e prometem há muito a viragem e a recuperação do País, mas, ao contrário, com o avançar do tempo, a perspectiva que se apresenta é o prolongamento da agonia económica e social», alertou, sublinhando que a «reestruturação do memorando e da dívida da troika que o Governo defende não responde a nenhum dos problemas fundamentais do País».
Libertar Portugal
Perante o agravamento de todos os problemas do País e das fantasiosas promessas de solução, Jerónimo de Sousa afirmou que «se impõe romper com este rumo de desastre nacional» e «afirmar o direito inalienável a um Portugal desenvolvido e soberano», o que implica «a inadiável demissão do Governo e a convocação de eleições antecipadas, a rejeição do pacto de agressão e das suas políticas e medidas». «Não existem dúvidas de que a saída para a crise que vivemos exige uma viragem com uma nova política», que «seja capaz de libertar Portugal da dependência e da submissão» e que «combata efectivamente as desigualdades sociais e do território».
Agostinho Lopes
«A Revolução de Abril foi um passo gigantesco em direcção à igualdade política e social dos portugueses. A Constituição da República é um marco fundamental nesse caminho. Mas cedo os exploradores procuraram reverter o processo do progresso e do desenvolvimento. Foi este o trabalho sujo de sucessivos governos do PS, PSD e CDS, desde 1976, ao serviço dos interesses do grande capital, do latifúndio e do imperialismo».
Avelãs Nunes
«A crise do capitalismo aconteceu, e a pretexto dela continuou-se a “guerra santa” contra os direitos dos trabalhadores. Aproveitou-se também para atacar tudo aquilo que é o Estado Social.
As crises acentuam as contradições do capitalismo, que tem os séculos contados. Depende de nós os séculos serem maiores ou mais pequenos. Essa é a nossa tarefa política».
Sérgio Ribeiro
«O perigo de real desertificação e de congestionamento de uma faixa de litoral, particularmente de duas zonas que já somam quase dois terços da população total, reforça a necessidade e a urgência de uma mudança de política, só possível com uma outra política, com outro governo».
Madalena da Fonseca
«Praticamente 30 anos depois da nossa integração europeia, da aplicação dos quadros comunitários de apoio e da política de coesão com vista à atenuação dos desequilíbrios regionais, estes não só persistem como evidenciam alguma tendência para se acentuarem».