Vassourada swaps

Anabela Fino

A es­colha do tema da se­mana es­tava feita; pa­recia evi­dente que estas li­nhas de­viam ser de­di­cadas à sú­bita re­cu­pe­ração do velho há­bito de es­crever cartas, tanto mais pe­cu­liar quanto se sabe do em­pe­nhado in­te­resse dos po­deres ins­ti­tuídos em li­quidar os ser­viços pos­tais. Grosso modo, pode dizer-se com o de­vido res­peito que de há uns tempos a esta parte não há gato nem cão que para tratar dos su­premos in­te­resses do País – e que ou­tros se­riam? – não es­creva uma carta de­vi­da­mente pu­bli­ci­tada na co­mu­ni­cação so­cial, se não no todo pelo menos em parte, de forma a que todos saibam o que a al­guns in­te­ressa que se saiba. Es­tavam as ideias mais ou menos ali­nha­vadas neste ponto de troika cartas quando, ines­pe­ra­da­mente, me caiu na sopa – foi à hora de jantar – o es­tranho vo­cá­bulo swap.

Fosse por ig­no­rância ou dis­tracção, ou quem sabe se por in­fluência do tempo fi­nal­mente ameno, a ver­dade é que a es­tranha pa­lavra me re­meteu por mo­mentos para uma be­bida exó­tica e re­fres­cante num ce­nário ma­rí­timo, a mi­lhas do quo­ti­diano e res­pec­tivos pro­blemas... É caso para dizer que foi sol de pouca dura, e que quase pude ver os ditos swaps a aze­darem o caldo de le­gumes com a to­xi­ci­dade ga­ran­tida pelas no­tí­cias e à ver­ti­gi­nosa ve­lo­ci­dade da su­bida dos juros das em­presas pú­blicas para 20 por cento. Es­tava o caldo en­tor­nado.

Per­dido o ape­tite e es­fu­mada a ilusão de exó­ticas sen­sa­ções, lá fui apre­en­dendo que os swaps (pa­lavra in­glesa para de­signar o que em por­tu­guês se chama troca ou per­muta) são con­tratos de alto risco para pro­teger em­prés­timos ou fi­nan­ci­a­mentos face à va­ri­ação da taxa de juro. Ao que pa­rece, em te­oria, os swaps pro­tegem o cli­ente desde que... não es­tejam de­pen­dentes de de­ri­vados fi­nan­ceiros es­pe­cu­la­tivos, como por exemplo a co­tação do pe­tróleo.

Os bancos que ven­deram os swaps às em­presas pú­blicas por­tu­guesas – por que será que o facto não es­panta? – foram o Goldman Sachs, JP Morgan, Deutsche Bank e BNP Pa­ribas, es­pe­ci­a­li­zados, di­gamos assim, na co­mer­ci­a­li­zação de pro­dutos tó­xicos que de­sen­ca­de­aram a crise fi­nan­ceira em que o ca­pi­ta­lismo está mer­gu­lhado e que os povos estão a pagar. E as em­presas na­ci­o­nais mais afec­tadas – Metro de Lisboa, Carris, Metro do Porto e STCP –, ou seja com um rombo de mi­lhares de mi­lhões de euros nas contas, são aquelas em que os tra­ba­lha­dores têm sido sis­te­ma­ti­ca­mente acu­sados pelo Go­verno e afins de serem os cau­sa­dores dos dé­fices por de­fen­derem os seus le­gí­timos di­reitos, como por exemplo o pa­ga­mento das horas ex­tra­or­di­ná­rias e o res­peito pelas con­ven­ções co­lec­tivas. Mas isto não é tudo. Entre os res­pon­sá­veis pela de­cisão de fazer con­tratos swaps estão mem­bros do ac­tual Go­verno ou de go­vernos an­te­ri­ores – o ne­gócio das swaps ocorreu entre 2003 e 2010 – em mais um caso evi­dente da dança de ca­deiras entre go­ver­nantes e ges­tores. À conta disso já caíram dois se­cre­tá­rios de Es­tado, mas ainda agora a pro­cissão vai no adro. Num país onde a culpa (dos pro­te­gidos do sis­tema) morre sempre sol­teira, este caso ar­risca tornar-se em mais um swap tó­xico para os sus­peitos do cos­tume.

Com tanto lixo a in­to­xicar o País, é mais do que tempo de dar uma vas­sou­rada swaps no Go­verno e fazer uma lim­peza geral na po­lí­tica na­ci­onal, que isto não vai lá com troca troikas.



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