Vassourada swaps
A escolha do tema da semana estava feita; parecia evidente que estas linhas deviam ser dedicadas à súbita recuperação do velho hábito de escrever cartas, tanto mais peculiar quanto se sabe do empenhado interesse dos poderes instituídos em liquidar os serviços postais. Grosso modo, pode dizer-se com o devido respeito que de há uns tempos a esta parte não há gato nem cão que para tratar dos supremos interesses do País – e que outros seriam? – não escreva uma carta devidamente publicitada na comunicação social, se não no todo pelo menos em parte, de forma a que todos saibam o que a alguns interessa que se saiba. Estavam as ideias mais ou menos alinhavadas neste ponto de troika cartas quando, inesperadamente, me caiu na sopa – foi à hora de jantar – o estranho vocábulo swap.
Fosse por ignorância ou distracção, ou quem sabe se por influência do tempo finalmente ameno, a verdade é que a estranha palavra me remeteu por momentos para uma bebida exótica e refrescante num cenário marítimo, a milhas do quotidiano e respectivos problemas... É caso para dizer que foi sol de pouca dura, e que quase pude ver os ditos swaps a azedarem o caldo de legumes com a toxicidade garantida pelas notícias e à vertiginosa velocidade da subida dos juros das empresas públicas para 20 por cento. Estava o caldo entornado.
Perdido o apetite e esfumada a ilusão de exóticas sensações, lá fui apreendendo que os swaps (palavra inglesa para designar o que em português se chama troca ou permuta) são contratos de alto risco para proteger empréstimos ou financiamentos face à variação da taxa de juro. Ao que parece, em teoria, os swaps protegem o cliente desde que... não estejam dependentes de derivados financeiros especulativos, como por exemplo a cotação do petróleo.
Os bancos que venderam os swaps às empresas públicas portuguesas – por que será que o facto não espanta? – foram o Goldman Sachs, JP Morgan, Deutsche Bank e BNP Paribas, especializados, digamos assim, na comercialização de produtos tóxicos que desencadearam a crise financeira em que o capitalismo está mergulhado e que os povos estão a pagar. E as empresas nacionais mais afectadas – Metro de Lisboa, Carris, Metro do Porto e STCP –, ou seja com um rombo de milhares de milhões de euros nas contas, são aquelas em que os trabalhadores têm sido sistematicamente acusados pelo Governo e afins de serem os causadores dos défices por defenderem os seus legítimos direitos, como por exemplo o pagamento das horas extraordinárias e o respeito pelas convenções colectivas. Mas isto não é tudo. Entre os responsáveis pela decisão de fazer contratos swaps estão membros do actual Governo ou de governos anteriores – o negócio das swaps ocorreu entre 2003 e 2010 – em mais um caso evidente da dança de cadeiras entre governantes e gestores. À conta disso já caíram dois secretários de Estado, mas ainda agora a procissão vai no adro. Num país onde a culpa (dos protegidos do sistema) morre sempre solteira, este caso arrisca tornar-se em mais um swap tóxico para os suspeitos do costume.
Com tanto lixo a intoxicar o País, é mais do que tempo de dar uma vassourada swaps no Governo e fazer uma limpeza geral na política nacional, que isto não vai lá com troca troikas.