Dar novos países ao mundo
O fim da guerra colonial, que ceifava vidas e recursos em Portugal e em África, foi desde logo uma importante conquista da Revolução de Abril: daí em diante não mais os jovens portugueses seriam mandados para uma terra distante combater – e morrer – para defender interesses que não eram os seus.
Mas o fim da guerra trouxe outra importante realização progressista da Revolução portuguesa: a contribuição para a rápida independência dos povos submetidos ao colonialismo português. De facto, nos meses e anos que se seguiram ao derrubamento do fascismo nasceram novos países – Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe – que encetaram também eles caminhos soberanos visando o socialismo. Um caminho condicionado quase à nascença, em muitos deles, pelo imperialismo, que apostou na guerra civil para fazer com que à sua libertação do colonialismo português se seguisse a submissão, sob outras formas, a novos senhores.
Sobre a independência das antigas colónias escreveu Álvaro Cunhal em «A Revolução Portuguesa – o Passado e o Futuro» que esta «não correspondeu apenas a uma atitude de justiça para com esses povos. Correspondeu também aos interesses reais e profundos do próprio povo português, à causa da Paz e do progresso da humanidade». Na mesma obra, o então Secretário-geral do Partido salientava ainda que a «exploração e a opressão coloniais eram por um lado uma história de crimes contra os povos explorados e subjugados e por outro lado uma fonte de energias, de recursos, de força material e ideológica dos exploradores e opressores do próprio povo português, do grande capital monopolista, da reacção e do fascismo». Ou seja, a confirmação da tese segundo a qual não é livre um povo que oprime outros povos...
Durante a guerra colonial, que foi de libertação para os povos africanos, estes contaram sempre com a solidariedade do povo português, que soube integrar este elemento na sua luta pela liberdade e a democracia; da mesma maneira que a luta dos povos submetidos ao colonialismo foi solidária com a luta antifascista do povo português. Uma vez libertados, os novos países mantiveram com o Portugal de Abril uma relação de amizade, para a qual muito contribuiu a histórica ligação entre o Partido Comunista Português e os movimentos que assumiram o poder nos novos países africanos: MPLA, FRELIMO, PAIGC e MLSTP.
Mas não foram só estes países que nasceram após Abril. O próprio Portugal, durante anos fechado ao mundo por uma ditadura fascista, surgia agora novo, liberto, estabelecendo relações com os países socialistas e progressistas. Abril deu, de facto, novos países ao mundo.