Álvaro Cunhal, a soberania e a independência
O auditório da Biblioteca Almeida Garret, situada no Porto, por entre os jardins do Palácio de Cristal, acolheu, no passado sábado, a conferência «Soberania e Independência Nacional – Pensamento e Acção de Álvaro Cunhal».
Ao povo cabe a definição do seu futuro
A iniciativa, inserida nas comemorações do Centenário de Álvaro Cunhal, tratava de temas que, conforme afirmaria Jaime Toga, membro da Comissão Política e responsável da Direcção Regional do Porto do PCP, foram transversais à vida, à luta e ao conjunto do legado teórico de Álvaro Cunhal. Aos seis oradores presentes coube a tarefa de, em torno da soberania e da independência nacionais, intervir nesta conferência, abrangendo diversos temas relacionados com estas temáticas.
Pedro Guerreiro, do Secretariado do CC, abordou a situação do nosso País na Europa e no Mundo, referindo-se, por exemplo, à forma como a União Europeia tem servido um processo de integração capitalista, ao qual é imprescindível dar combate. Jorge Sarabando relacionou a cultura e a identidade cultural como um importante factor de soberania nacional, tendo exemplificado com a necessidade da valorização da língua portuguesa, do património literário, como peça crucial da afirmação do País e seu elemento definidor.
Cesár Príncipe, jornalista e escritor, debruçou-se sobre a Comunicação Social e o modo, como «naturalmente» esta serve intuitos de dominação ideológica, e sempre em favor dos detentores desses meios, que são, também, os detentores do capital. Para este militante comunista, «o povo está ausente da comunicação social», tendo elencado os onze grupos financeiros que dominam por completo os meios de comunicação social no nosso País.
Para César Príncipe, «apenas a imprensa do PCP se mantém fiel» aos ideais de Abril.
Um pensamento actual
Sobre o desenvolvimento científico e tecnológico e o sistema educativo, Rogério Reis, professor universitário e membro do Comité Central, referiu uma série de indicadores comparativos com outros países, nomeadamente no que toca ao investimento em investigação e ao peso da educação no orçamento das famílias, que em Portugal se apresenta maior do que na generalidade dos países europeus. Para Rogério Reis, as consequências destas políticas medir-se-ão não em anos mas em gerações.
Não faltaram, em todas as intervenções, referências e citações da obra de Álvaro Cunhal, e Ilda Figueiredo começou a sua afirmando que a «soberania económica esteve sempre no centro da obra e trabalho» do histórico dirigente comunista. As políticas europeias comuns, para Ilda Figueiredo (igualmente membro do CC), trouxeram sempre enormes perdas de soberania para Portugal, acarretando imensos danos para os países periféricos da União Europeia. A posição do PCP em relação à «adesão de Portugal à CEE, não compreendida por muitos naquela altura», é hoje absolutamente evidente.
Também Manuel Loff, professor universitário e historiador, abordou a obra de Álvaro
Cunhal, as suas análises e pensamento, apresentando uma breve perspectiva histórica, tendo por base o «Rumo à Vitória», obra que considera «o mais importante texto de Álvaro Cunhal e da história do PCP». Citando aquela obra, as caracterizações sociais, culturais e económicas ali contidas, Manuel Loff enalteceu esses conteúdos, não só pelo que a história recente do País viria a confirmar, mas também pelo muito de actualidade que naquele texto se encontra.
Alternativa nas mãos do povo
Coube a Jaime Toga encerrar a conferência, começando por indicar a actual «ingerência externa» – o pacto de agressão da troika – com a enorme perda de soberania e independência do País. Em sua opinião, existe uma «persistência no ataque a Abril, seja em forma de Orçamento do Estado, em forma de lei, ou em forma de decreto», dando como exemplo recente a imposição «chantagista e vingativa assinada pelo ministro das Finanças, visando impedir os gastos da Administração Pública».
Elencando a gravíssima situação em que o País se encontra, Jaime Toga considerou que a solução é o «fim da ingerência e do desastre nacional, a defesa da soberania e da independência», mas que tal «não poderá ser conseguido por este Governo comprometido com o grande capital e submisso a interesse externos», que está «contra o povo e a Constituição». A construção da alternativa, garantiu o membro da Comissão Política, «está nas mãos do povo português» e da sua «identificação com os valores de Abril».