Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP

Figura fascinante e de invulgar inteligência

Image 12845

Permitam-me que vos dirija umas escassas palavras que serão essencialmente de agradecimento a todos os que proporcionaram esta magnífica iniciativa e para, desde já, expressar a nossa imensa alegria de vermos reunidos neste acto eminentemente cultural evocativo de Álvaro Cunhal, personalidades oriundas de diversos quadrantes ideológicos e com uma actividade marcante nas mais diversas áreas da nossa vida colectiva.

Queria, em primeiro lugar e em nome do Partido Comunista Português, expressar a nossa gratidão à Comissão Promotora desta Sessão Cultural Evocativa, às prestigiadas individualidades da cultura, das artes e do espectáculo, do desporto, das ciências, do jornalismo, aos militares, a todos os que a compõem e que muito nos honraram com a sua disponibilidade e iniciativa. Agradecer à Universalidade de Lisboa na pessoa do seu Reitor Prof. António Sampaio da Nóvoa, pela sua inclusão na Comissão Promotora e por todo o apoio à realização deste relevante evento. Agradecer a todos os artistas e técnicos participantes no espectáculo que se vai seguir e em relação ao qual todos estamos desejosos de conhecer e acompanhar, certos de que será um êxito e um momento de prazer e longa recordação. Agradecer a todos os presentes nesta Aula Magna, cuja participação valoriza e amplifica a dimensão humana e popular das comemorações do Centenário do nascimento de Álvaro Cunhal e que no fundo são os principais destinatários destas celebrações.

Nesta Sessão Cultural Evocativa, como o afirmam também os seus promotores, homenageamos o homem, o militante, o intelectual e o artista que foi Álvaro Cunhal. Homenageamos essa figura fascinante e de invulgar inteligência do nosso Portugal contemporâneo que se afirmou como uma referência na luta pela liberdade, a democracia, a emancipação social e humana; o homem de coerência, de firmes convicções, inteireza de carácter; o político de acção e de diversificada e profunda produção teórica; o estadista, mas também o homem de cultura e o artista, e que a presente iniciativa quer tornar particularmente evidente e homenagear.

Onde tudo começou

Uma iniciativa que assume todo o significado ser aqui realizada nesta Instituição, neste espaço produtor e transmissor de cultura, na sua Universidade, onde foi estudante na Faculdade de Direito, membro da Direcção Académica e do Senado Universitário em representação dos alunos. Nesta Universidade, onde praticamente iniciou a sua actividade revolucionária e a ligação ao seu Partido de sempre e onde sob prisão e escolta de uma brigada da polícia política da ditadura fascista, apresentou e defendeu, em Julho de 1940 a sua tese de licenciatura «O aborto, causas e soluções». Um estudo corajoso e inovador em relação ao flagelo social e humano do aborto clandestino que dilacerava a sociedade portuguesa, num tempo em que os direitos das mulheres eram em Portugal inexistentes e em relação ao qual se apresentava uma solução que só nos primeiros anos deste século conheceu resposta.

Num dia de festa da cultura como o da iniciativa de hoje, evocar Álvaro Cunhal não é apenas recordar o criador de cultura que foi – lembrar e celebrar a sua expressiva produção artística no campo da estética, da criação literária e nas artes plásticas, a sua reflexão sobre todas as actividades artísticas, da pintura à arquitectura, da música ao bailado, da obra literária, ao teatro e ao cinema –, é acima de tudo mostrar o homem de cultura que era e que está bem patente na forma como via a arte, o papel do artista e a própria cultura.

Fonte de optimismo e confiança

Autor de uma arte assumida como elemento participante na modificação da sociedade movida por ideais de fraternidade, justiça social e liberdade e por onde perpassa o povo que sofre e luta, Álvaro Cunhal via e defendia o fenómeno da criação artística como acto autónomo e profundamente livre de imposições. Livre de directivas, de «regras» obrigatórias, de escolas ou tendências estéticas pré-estabelecidas.

A «arte é liberdade» dizia-nos Álvaro Cunhal, «é imaginação, é fantasia, é descoberta e é sonho (…). Matar a liberdade, a imaginação, a fantasia, a descoberta e o sonho, seria matar a criatividade artística e negar a própria arte, as suas origens, a sua evolução e o seu valor como atributo específico do género humano».

Numa sociedade onde crescem tendências de ostracização do que é diferente, se estigmatiza os que procuram novos caminhos, onde a desesperança é servida quotidianamente em elevadas doses de cinismo, o exemplo de vida de Álvaro Cunhal, a sua força interior, a sua luta e a sua obra continuam a ser fonte de optimismo e confiança e um incentivo para quem luta e acredita na força criadora e libertadora dos homens e dos povos, armados com as armas da sua identidade e da sua cultura.

Bem hajam pela vossa homenagem e presença!



Mais artigos de: Em Foco

Há homens que nunca morrem

A sessão cultural evocativa de Álvaro Cunhal, que na tarde de sábado fez transbordar a Aula Magna da Universidade de Lisboa, é um momento que ficará na memória de todos quantos nela participaram. Para além de um espectáculo irrepreensível, com alguns dos melhores artistas portugueses da actualidade, houve emoções de sobra, numa demonstração inequívoca de que há homens que nunca morrem.

Artista, intelectual e militante comunista (*)

A par de uma intensa actividade política revolucionária, Álvaro Cunhal desenvolveu, ao longo da sua vida, um apaixonado interesse por todas as dimensões da existência. Militante e dirigente comunista, sempre que as circunstâncias de todo não o...

Tudo depende da nossa vontade

O reitor da Universidade de Lisboa, António Sampaio da Nóvoa, que interveio na qualidade de anfitrião da sessão, manifestou a sua satisfação por ver a Aula Magna repleta em homenagem a um antigo aluno da Universidade e membro do seu Senado, em...

Uma obra que é património do povo

Boa tarde a todos e o nosso agradecimento pela vossa participação nesta sessão cultural evocativa – a dimensão intelectual, artística, humana e militante de Álvaro Cunhal. Uma homenagem a que se associou um conjunto de personalidades –...

Reconhecimento de uma vida

Fizeram questão de marcar presença na sessão cultural evocativa de Álvaro Cunhal inúmeras personalidades das mais variadas áreas de actividade. Para além dos que prestaram homenagem a partir do palco, muitos outros compareceram. Na...

Eusébio enviou mensagem

Marcaram presença na sessão diversas das personalidades do mundo da cultura, das artes, do trabalho e do desporto que integraram a sua comissão promotora. Entre elas estavam os antigos futebolistas Hilário e Carlos Manuel. Eusébio, que fez igualmente parte da comissão,...

Grande exposição em Lisboa

É inaugurada a 27 de Abril a grande exposição central das comemorações do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal, com o lema «Vida, pensamento e luta: exemplo que se projecta na actualidade e no futuro». A mostra estará...

«Os Barrigas e os Magriços» chega ao teatro

Integrada nas comemorações do centenário do nascimento de Álvaro Cunhal estreia em breve a peça para a infância «Os Barrigas e os Magriços», a partir de um conto homónimo de Álvaro Cunhal. A peça é uma...

A prisão no Luso

Mais de uma centena de pessoas participaram, no domingo, na Mealhada, numa sessão evocativa da prisão de Álvaro Cunhal na casa clandestina que habitava, no Luso, a 25 de Março de 1949. Na ocasião foram igualmente presos o também membro do Secretariado, Militão Ribeiro...