A mesma luta
O Partido Comunista do Chile e o Partido Comunista Português têm muito em comum. Oito meses depois da instauração da ditadura no nosso país, Portugal libertava-se da ditadura fascista que oprimiu o povo durante 48 anos. Tal como os comunistas portugueses, também nós passámos décadas na clandestinidade. A participação neste vosso Congresso é também expressão dessa experiência comum, permitindo-nos, para mais, trocar apreciações sobre a análise concreta da situação nos nossos países e ao nível internacional.
Tal como em Portugal, também no Chile se sente as consequências da crise capitalista. É verdade que a ofensiva não assume a mesma dimensão, mas isso deve-se ao facto de as medidas com que se confrontam hoje os portugueses e outros povos da Europa terem sido aplicadas no Chile nas décadas de 70 e 80, justamente durante a ditadura fascista, e contra as quais nunca deixámos de lutar.
Quer isto dizer que, na actual conjuntura, partilhamos muitos combates. Contra a exploração privada da educação, da saúde, da água, e em geral dos serviços públicos, por exemplo. Enfrentámos o mesmo inimigo e as mesmas políticas.
Recentemente, os estudantes e os jovens chilenos impulsionaram a luta social e política no nosso país. Tendo começado por pequenas reivindicações, como a contestação aos cortes nos passes sociais, a luta foi crescendo, trazendo para o processo reivindicativo outros sectores. O ponto alto foram as grandes acções de massas em defesa da educação pública, da nacionalização do cobre como medida fundamental para financiar os serviços públicos, e por uma reforma fiscal abrangente.
Apesar de um refluxo nas movimentações de massas, estes são temas que se mantêm com vivacidade na sociedade chilena. Ninguém, nem mesmo o governo e a direita, se nega a discutir a nacionalização dos recursos naturais, o estabelecimento de serviços públicos universais, a revisão do regime tributário. O actual contexto foi construído pelas movimentações de massas, abrangendo, inicialmente, jovens estudantes, professores ou funcionários do sector da educação, e, depois, as mais amplas camadas da população. A verdade é que o debate sobre as estas questões centrais prossegue a um nível superior ao de antes, o que não ocorreria sem as lutas de massas realizadas.
Podemos dizer, igualmente, que as formas de luta adoptadas em torno da defesa de uma escola pública estimularam outros sectores sociais e comunidades locais que multiplicaram os protestos nas ruas, partindo precisamente de questões concretas tão diversas como o acesso à água ou à energia e o seu custo para o povo, ou contestando a degradação do ambiente e as assimetrias regionais.
Muitos chilenos exigem já mudanças estruturais e não apenas reformas pontuais. Isto é um avanço qualitativo importante no quadro do qual o sistema é cada vez mais colocado em causa, e não somente tal ou tal executante político ou governamental. Evidencia-se uma crise de representatividade do sistema no seu conjunto.
* Membro do Comité Central do Partido Comunista do Chile