Tomar Partido
Certamente confundindo desejos com realidades, muitos foram os que declararam ao longo dos anos a morte do PCP: Salazar e Caetano fizeram-no, tal como muitos dos promotores da contra-revolução e da política de direita que há mais de 35 anos fustiga o povo e o País. Uns e outros não podiam estar mais longe da verdade. Tal como não soçobrou perante a repressão fascista, o Partido Comunista Português enfrentou de rosto erguido a poderosa ofensiva ideológica que dava como certo o fim do comunismo e da luta de classes e apresentava o capitalismo como sistema triunfante, final e único, e não se deixou seduzir pelos «cantos da sereia» da participação no poder pelo poder.
Mas desengane-se quem pensar que o PCP se limita a resistir. Resiste, sim, mas cresce, avança, reforça-se, como o prova a adesão ao Partido de milhares de pessoas que compreenderam já que não basta perfilhar certas ideias – é preciso lutar por elas, colectivamente. Ouçamos o que têm a dizer os novos militantes.
Sónia Casmarrinha tem 36 anos e pouco mais de um de militância comunista. Mas o Partido não é propriamente uma novidade na vida desta operadora de caixa de supermercado de Setúbal, delegada sindical no seu local de trabalho. Não só os seus pais sempre foram do PCP como ela própria esteve ligada, em jovem, aos Pioneiros. Mas a vida deu muitas voltas e Sónia andou afastada, até que há cerca de dois anos começou a ter «mais disponibilidade e a participar em algumas iniciativas, como a Festa do Avante!, o 25 de Abril ou as manifestações do 1.º de Maio». Uma coisa leva a outra e Sónia acabou por se inscrever no Partido, pois «não chega termos afinidades com uma determinada coisa, é preciso assumi-la e dar a cara pelo que se sente e pelo que se é».
O momento mais marcante da sua ainda breve vida de militante foi a participação, como delegada, no XIX Congresso do Partido, onde lhe coube sentar-se na Mesa da Presidência: «Foi uma experiência única, difícil de explicar por palavras. Senti-me privilegiada por estar na mesa, pois tive uma visão do Congresso que poucas pessoas têm. No sítio onde eu estava, via a reacção das pessoas a cada uma das intervenções.»
Com a sua participação, espera ajudar a «modificar as coisas» e «conseguir chamar mais gente, divulgar o nosso Programa e o que é ser comunista». Reconhecendo existir ainda algum preconceito, sente que «as coisas estão a mudar, principalmente entre os mais jovens, que começam a pensar de outra maneira e a ver que o que nós queremos para o nosso País é o mais acertado».
Inês Tomé, de 43 anos, é jardineira na Câmara Municipal da Guarda, onde desenvolve a sua actividade enquanto dirigente sindical do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local (STAL). Há muito que pensava em filiar-se no Partido, mas por diversas razões tal não sucedeu, acabando por preencher a ficha apenas há menos de um ano. Devido à sua vida pessoal e profissional, reconhece não ter o tempo que desejava para a sua militância, mas acredita que a actividade sindical que desempenha é, também ela, uma forma de levar por diante uma luta que também é a do Partido.
Quanto ao que espera alcançar enquanto militante do Partido, Inês Tomé fala em contribuir para que as «pessoas abram a mente e vejam que não há só os mesmos e que dêem uma oportunidade a outros partidos, nomeadamente ao PCP» – que, acrescenta, tem um bom Programa e «não é nenhum “bicho papão”». Em suma, quer fazer com que o Partido tenha uma «vida mais activa no nosso País, que está na miséria».
Aproveitando a conversa com o Avante!, Inês Tomé valorizou o papel desempenhado pelo órgão central do Partido, ao dar uma «visão mais próxima da realidade», perante tanta «informação manipulada» veiculada por outros órgãos de comunicação social.
José Pato, serralheiro civil na Câmara Municipal de Aljustrel, de 36 anos, tem uma história curiosa. A sua participação na actividade partidária vem de tão longe que ficou desconcertado quando descobriu que não era, de facto, militante do PCP. Uma surpresa, aliás, partilhada por muitos dos camaradas que com ele há muito privavam. Daí que a consumação da adesão não tenha constituído propriamente uma alteração significativa na sua vida. Apesar disto, não deixa de salientar a importância do acto, pois o PCP é o «único Partido que defende os trabalhadores».