Ei-los que partem
A organização do PCP na Suíça promoveu recentemente um debate em que ficaram claras as dificuldades que encontram aqueles que deixam o País.
Nos últimos seis meses chegaram à Suíça 18 mil portugueses
Nos últimos seis meses chegaram à Suíça 18 mil emigrantes portugueses. O número foi revelado no debate promovido pelo PCP no passado dia 3 de Fevereiro em Berna. Com a mais recente vaga de emigração lusa para aquele país europeu a comunidade portuguesa aí residente aumenta para as 200 mil pessoas.
No debate salientou-se ainda que estes novos emigrantes são, cada vez mais, trabalhadores qualificados que, fora algumas raras excepções, vão ali desempenhar trabalhos não qualificados ou trabalhos que sendo qualificados são extremamente mal pagos. Fica assim claro que o grande investimento feito na formação destes jovens vai beneficiar não o desenvolvimento do país que os formou mas as economias mais ricas.
O desumano regime de exploração dos novos emigrantes nos países de acolhimento foi igualmente denunciado, tendo mesmo sido usada a expressão de «escravatura» para caracterizar algumas situações laborais existentes. Em muitos casos, são «empreiteiros portugueses que, eles mesmos, exploram os seus compatriotas que acabam de chegar ao estrangeiro». Com a colaboração das agências locais de trabalho temporário, os empreiteiros instalados exploram os novos emigrantes.
Para minimizar a incidência destas situações, falou-se no debate da importância de se lançar uma campanha em Portugal para que a emigração seja feita com segurança e bem informada. Esta é, aliás, uma proposta antiga do Conselho das Comunidades Portuguesas, constantemente ignorada pelo Governo português.
Os participantes na iniciativa – militantes do Partido, dirigentes e activistas sindicais e associativos – denunciaram ainda o comportamento das autoridades suíças no que respeita à livre circulação de pessoas (no quadro do acordo bilateral existente com a UE): a passividade cúmplice que demonstram no que respeita à sobre-exploração dos emigrantes; e a pressão que exercem sobre estes, quando desempregados, para que regressem aos seus países.
Ensino do português
Os múltiplos problemas existentes na Suíça no que respeita ao ensino da língua portuguesa também foram abordados no debate: falta de professores, níveis diferentes de classes juntos na mesma aula com um só professor; crianças que embora o desejem não têm acesso ao ensino da sua língua materna. Para o PCP, há uma desorganização total do ensino do português na Suíça.
A sessão ficou ainda marcada pelo desmentido efectuado relativamente ao número real de despedimentos de professores, que o Secretário de Estado situou em apenas 20. Para o Partido, há que juntar a estes os que não viram os seus contratos a termo renovados, pelo que o número real é de 30, o que para a realidade existente na Suíça não deixa de ser significativo.
A suspeita de que para o próximo ano lectivo haja propinas – o que violaria flagrantemente o artigo 74.º da Constituição – está a provocar a indignação das comissões de pais, que sentem que o seu País os está a votar ao abandono puro e simples. O Governo pretende que a partir do próximo ano todos os alunos façam a sua inscrição «online» e paguem uma propina a rondar os 100 euros. Esta propina seria apenas para os alunos do ensino paralelo (os que têm os cursos depois do horário escolar), o que cria uma situação de desigualdade, pois os alunos do sistema integrado, que são muito poucos, não teriam que a pagar.
O PCP apela à organização e à luta dos emigrantes portugueses para fazerem face às crescentes dificuldades com que se deparam na sua vida.