Isto anda tudo ligado

José Casanova

O mas­sacre na es­cola pri­mária Sandy Hook, em New­town, EUA, foi o 61.º no gé­nero na­quele país, desde 1982. É caso para dizer que tais bar­ba­ri­dades pas­saram a ser parte in­te­grante do cha­mado «modo de vida norte-ame­ri­cano». Neste caso, 27 pes­soas – das quais 20 eram cri­anças entre os 6 e 7 anos – foram bru­tal­mente as­sas­si­nadas a tiro por um ener­gú­meno ar­mado até aos dentes. Com armas com­pradas le­gal­mente, já que, como é sa­bido, «nos EUA a compra de armas é um di­reito cons­ti­tu­ci­onal» – um di­reito de que nin­guém, pa­rece querer ab­dicar, a co­meçar pelos fa­bri­cantes e pelos ven­de­dores, es­pe­ci­al­mente os que as fa­bricam para uso in­terno e, na pas­sada, as fazem chegar a todo o lado onde os in­te­resses su­premos do Im­pério o exigem – de Hi­roshima e Na­ga­sáqui às di­ta­duras fas­cistas cri­adas ou apoi­adas pelos su­ces­sivos go­vernos dos EUA; do Iraque, à ex-Ju­gos­lávia, ao Afe­ga­nistão…

O há­bito do mas­sacre está-lhes no sangue.

En­tre­tanto, e como sempre acon­tece nestas si­tu­a­ções, er­guem-se mi­lhares de vozes exi­gindo me­didas de con­trolo da venda de armas. Só que, desta como das vezes an­te­ri­ores, são mais as vozes que gritam no sen­tido con­trário – a con­firmar que os norte-ame­ri­canos pre­cisam mais de armas do que de pão para a boca, como nos diz um es­tudo re­cente: «os norte-ame­ri­canos gastam mais em armas do que em pro­dutos ali­men­tares»…

E, como que a ga­rantir que os mas­sa­cres vão con­ti­nuar, diz uma no­tícia que está em marcha uma re­colha de as­si­na­turas para uma pe­tição no sen­tido de se acabar com a proi­bição de armas nas es­colas. Os pe­ti­ci­o­ná­rios ar­gu­mentam que se os pro­fes­sores da es­cola Sandy Hook ti­vessem armas, te­riam im­pe­dido o as­sas­sino de dis­parar…

Obama veio a pú­blico fazer aquilo que me­lhor sabe fazer: falar. E co­moveu-se: as suas lá­grimas (cer­ta­mente sen­tidas) trou­xeram-me à me­mória ou­tras lá­grimas, de um seu an­te­cessor, Bush-pai. Nessa al­tura, em 1991, a no­tícia dizia: «O pre­si­dente rezou uma oração e deixou correr duas lá­grimas pelo rosto» – após o que or­denou o início dos bom­bar­de­a­mentos sobre o Kuwait e o Iraque, que vi­riam a pro­vocar cen­tenas de mi­lhares de mortos.

É que, como dizia o Poeta, «isto anda tudo li­gado»…



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