Jerónimo de Sousa no debate quinzenal sobre o OE para 2013

Uma marretada na vida do povo

Jerónimo de Sousa considerou o Orçamento do Estado para 2013 um «plano de saque» e um roubo» aos trabalhadores e acusou o Governo de tudo pretender sacrificar ao objectivo de o concretizar.

Governo dobra a parada dos sacrifícios

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O Secretário-geral do PCP falava sexta-feira passada no debate quinzenal com o primeiro-ministro, poucas horas depois de ter sido divulgada pela comunicação social a versão preliminar do OE proposta pelo Governo.

Numa avaliação sumária ao que veio a público sobre o conteúdo do documento, o líder comunista foi taxativo ao concluir que o Governo «ultrapassa todos os limites da desumanidade e da indignidade política neste ataque ao povo que trabalha, trabalhou e tem direito à sua reforma».

«O Governo vai buscar às pessoas de todas as maneiras, comprime os escalões, aumenta brutalmente as taxas, retira mais deduções com a saúde e educação, com estas alterações penaliza gravemente os escalões de rendimentos mais baixos e trata como grandes fortunas rendimentos do trabalho das camadas intermédias», denunciou o líder comunista, depois de ter já acusado o chefe do Executivo de, sentindo o tempo fugir-lhe, «dobrar a parada dos sacrifícios, mesmo caminhando para o desastre».

Aludia às palavras do primeiro-ministro proferidas há algums tempo em que este fazia a seguinte confissão: «que se lixe as eleições».

«O que estava a pensar é que se lixe os portugueses, que se lixe os que trabalham ou trabalharam uma vida inteira, que se lixe os jovens e a jovens gerações, que se lixe o País, erigindo como seu objectivo supremo servir os grandes interesses do capital financeiro, dos grupos económicos endeusados e transformados em bezerros de ouro», verberou Jerónimo de Sousa.

Taxar a eito

Por si duramente criticada foi ainda a chamada «contribuição extraordinária» sobre os subsídios de desemprego e de doença, já de si fortemente cortados nos últimos anos, lavrando a sua indignação por terem de «pagar uma taxa como se fossem grandes fortunas».

Aconselhou por isso o primeiro-ministro a «não vir dizer que aqui ou ali há pequenas mudanças, neste ou naquele pormenor».

«Não vale a pena disfarçar que quer aplicar uma marretada na vida dos portugueses e vir aqui dar depois uma palmadinha nas costas», prosseguiu, sublinhando que «também não vale a pena falar sobre o aumento da taxa de alguns rendimentos do capital no IRS». É que de fora, observou, «fica o regabofe dos lucros a pagar no IRC: fuga para a Holanda, fuga para o off-shore da Madeira e outras manigâncias que o Governo continua a permitir com a isenção de mais-valias bolsistas de SGPS».

«E mesmo dando de barato essas receitas de 350 milhões» anunciadas pelo Governo, na perspectiva de Jerónimo de Sousa, «está por provar que não haja os alçapões necessários para que essa receita não se concretize».

Sem medo das palavras

Trazido à colação pelo Secretário-geral do PCP no debate foi ainda o que definiu como «sentimento de profunda indignação» existente «pela hipocrisia e pela mentira que está colocada quando o chefe do Governo fala de equidade». Daí ao desafio foi um passo: «Explique lá quanto é que taxa ao capital, quanto é que tira a quem trabalha ou trabalhou?»

Para o dirigente comunista é óbvio que não há qualquer espécie de equidade nos sacrifícios impostos aos portugueses, sendo certo que o Governo o que «quer é sacar, é roubar mais de dois mil milhões de euros a quem trabalha e a quem trabalhou».

«Uma indignidade» que, em sua opinião, justifica bem o «sentimento de revolta», face a um Governo que quer aprovar o OE «custe o que custar».

E daí que tenha formulado um voto: «Oxalá que os portugueses não permitam que essa sua obra destrutiva chegue ao fim».

Passos Coelho, na resposta, no que já vai sendo habitual, fugiu a todas questões colocadas, substituindo o esclarecimento pela falsidade, ao acusar os deputados comunistas e o próprio Jerónimo de Sousa de recorrerem ao que disse serem «expressões ofensivas e atentatórias da honra política de quem faz parte do Governo» e que «só podem ser entendidas como um convite à violência no País».

«As expressões que aqui emprega, traduzindo-se na mais do que sugestão, na responsabilização por actos de roubar, como acusa o Governo de fazer, torna o PCP cúmplice, para não dizer instigador, de atitudes de maior violência que possam ocorrer em Portugal», disse, elevando a provocação com laivos intimidatórios.

Contra-atacando, Jerónimo de Sousa afirmou que «honra é não faltar à palavra dada, ofensivo é levar à destruição a vida de muitos portugueses».

«Violento é o senhor que com estas medidas leva a que muitos portugueses não saibam o que fazer no futuro, violento e agressivo é esta política que tanto mal está a fazer ao País e aos portugueses», acrescentou, antes de fazer um reparo irónico alusivo ao «coitado» do ex-líder do PSD Marques Mendes que também apela à violência quando afirma que este Governo está a fazer um «assalto ao bolso» dos contribuintes.

Ao primeiro-ministro o Secretário-geral do PCP fez igualmente saber que nada mudará a «coerência e a firmeza» da intervenção comunista, advertindo-o para que «não conte» com a «passividade» do PCP.

«Conte sempre com voz firme, falando verdade, falando rijo, sempre que for necessário, para bem de Portugal e dos portugueses», garantiu Jerónimo de Sousa.

 

 

 

 

 



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