«Sem rancor ou arrogância»
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) confirmaram a conclusão de um acordo com o governo para o início de negociações visando a solução pacífica do conflito que se arrasta há 48 anos no país.
O acordo representa uma vitória para as FARC
Em mensagem divulgada na Internet, o comandante das FARC, Rodrigo Londoño, garantiu que a guerrilha parte para o processo «sem rancor nem arrogância». Timoleón Jiménez, ou Timochenko, confirmou ainda que o texto subscrito considera que a construção da paz diz respeito ao conjunto da sociedade, e, por isso, requer a participação de todos.
Entre os temas abordados no documento, constam a democratização do acesso à terra e o progresso social e económico das comunidades rurais, a conservação dos recursos naturais, o combate às desigualdades e injustiças, o fim dos confrontos armados, a solução da questão das vítimas, dos presos políticos, do paramilitarismo e do narcotráfico, a participação política e o acesso à comunicação social, pontos considerados essenciais para o desenvolvimento da Colômbia como Estado democrático, respeitador dos direitos humanos, soberano e pacífico no contexto regional e mundial.
As declarações de Timochenko são a primeira posição pública das FARC desde o anúncio por parte do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, da conclusão das negociações exploratórias.
Os encontros, mediados pela Noruega, Cuba e Venezuela, terão decorrido em Oslo e Havana, tendo chegado a bom porto na capital cubana.
Vitória da resistência
O acordo alcançado representa uma vitória para as FARC, que sempre defenderam o diálogo como solução para o conflito que se arrasta há 48 anos, contrariamente ao actual e a anteriores governos, que não só recusaram negociar ou abortaram entendimentos praticamente fechados – como sucedeu em 1998, durante a presidência de Andrés Pastrana, quando as FARC, então lideradas pelo comandante Manuel Marulanda, viram comprometidos os esforços negociais depois da invasão pelo exército da zona desmilitarizada onde estas decorriam –, como promoveram a escalada militar e o terrorismo de Estado.
A conclusão das conversações exploratórias e a instalação de uma mesa de diálogo é, também, um triunfo das organizações e do movimento popular e de massas em defesa da paz, e, simultaneamente, uma derrota do militarismo e dos sectores reaccionários colombianos e do imperialismo.
Reagindo ao acordo, o Partido Comunista Colombiano (PCC) frisou que este é um primeiro passo positivo, mas nota que «só a actuação do povo e a sua mobilização unitária podem deter a mão do belicismo e das forças que conspiram contra a paz».
Para o PCC, «são necessárias mudanças que revertam a deterioração das condições de vida de milhões de compatriotas, o direito à terra, à soberania alimentar, ao território, à educação, à saúde, ao emprego, à habitação», por isso o partido apela «ao movimento popular» para que apoie «a via do diálogo, a intervenção das organizações do povo», e para que persista «no protesto social».