América Latina em pinceladas

Pedro Campos

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Numa entrevista recente à BBC, Eduardo Galeano, o autor de As Veias Abertas da América Latina – obra editada inicialmente em 1971, mas ainda fundamental para entender a exploração multissecular que vitimou o continente mal batizado por Cristóvão Colombo – falou sobre a destituição do presidente Fernando Lugo. Como sempre, expressou-se com clareza total. «O do Paraguai foi simplesmente um golpe de Estado». E definiu-o como «preventivo». Derrubaram esse sacerdote progressista «não pelo que tinha feito, mas pelo que podia fazer». Lugo, acrescentou Galeano, «não tinha feito grande coisa, mas como pensava numa reforma agrária num país que tem o grau de concentração de poder da terra mais alto da América Latina, e em consequência a desigualdade mais injusta; tinha tido algumas atitudes de dignidade nacional contra algumas transnacionais todo poderosas como a Monsanto e proibido a entrada de sementes transgénicas», tiraram-no do poder com «um golpe preventivo». Perguntado se estas situações o surpreendiam, Galeano respondeu com uma observação próxima de outra de Saramago: «A maioria dos países europeus, que pareciam estar vacinados contra os golpes de estado, são agora governados por tecnocratas apontados a dedo pela Goldman & Sachs e outras empresas financeiras que não foram votadas por ninguém».

Venezuela: cinco vezes mais pensionistas

Entre os anos de 1977 a 1998, mais de duas décadas, as autoridades da IV República outorgaram pensões a 387 007 cidadãos. Registe-se igualmente que, nesse período, o valor das pensões não estava homologado com o ordenado mínimo, pelo que havia pensões absolutamente ridículas. Desde 1999, data do nascimento da V República, até 2012, o governo bolivariano já atribui pensões a um milhão 789 mil pessoas. E hoje a pensão acompanha a evolução do ordenado mínimo.

Durante a IV República, o gasto social relacionado com as pensões foi de 592 milhões de bolívares. Entre 1999 e 2012, saltou para 141 mil milhões.  Feitas bem as contas, em mais ou menos metade do tempo o investimento social da V República com os pensionistas cresceu mais de 230 vezes. Visto de outra maneira, durante aqueles anos de democracia burguesa ao gosto de Washington, o crescimento interanual de pensionistas foi de 17 591. Actualmente, pese a todas as dificuldades e agressões da burguesia nacional e internacional contra a revolução bolivariana, cada ano há 137 661 pensionistas adicionais, que recebem as suas pensões com a pontualidade de um relógio suíço, se é que eles ainda são pontuais. Acabaram-se as manifestações de pessoas da terceira idade a lutarem para receber o dinheiro a que tinham direito depois de toda uma vida de trabalho. Deixaram igualmente de existir as lamentáveis cenas das cargas policiais contra esses manifestantes.

Argentina: Videla enfrenta nova acusação

O ditador Jorge Vilela «governou» a Argentina entre 1976 e 1981, tempo que lhe foi suficiente para cometer crimes de todos os tipos. Para além de ter proibido a circulação de livros tais como O Principezinho e a Enciclopédia Salvat; de ter mandado queimar, ao melhor estilo nazi, obras de García Máquez e Pablo Neruda e de chegar ao ridículo de interditar a circulação do livro Cuba electrolítica, porque pensou que se referia à ilha das Caraíbas, tornou-se célebre por eliminar vários opositores lançando-os ao mar desde helicópteros.

Mas foi mais longe. Assassinou igualmente altas figuras da Igreja católica. Videla está agora acusado da morte de monsenhor Enrique Angelelli, bispo de La Rioja. Este estava no processo de investigar a morte de outros dois sacerdotes – Carlos de Dios Murias e Gabriel Longueville – e no dia 4 de Agosto de 1976, quando viajava com documentação sobre os crimes, foi emboscado por uma viatura militar que lhe provocou a morte. Este «método» de acidente automobilístico foi utilizado pelo regime de Vilela para assassinar igualmente outros sacerdotes, entre eles Alfredo Leaden, Pedro Duffau, Alfredo Kelly e Emilio Barletti. Outro «acidentado» mortal foi  Ponce De León, bispo de San Nicolás. Apesar destes e outros crimes, a hierarquia da Igreja católica abençoou os crimes da ditadura, definindo como «cristãos e incruentos»  os  «voos da morte», que vitimaram milhares de pessoas, entre elas duas freiras francesas, que foram lançadas vivas ao oceano.



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