Uns piores do que outros
Afirma o primeiro-ministro que as culpas da situação dramática a que o País chegou são dos anteriores governos do PS. Tal afirmação, que está a meio caminho de ser verdadeira, está a igual distância de ser falsa - e é bem certo que ela foi produzida muito no jeito de quem sacode a água do capote…
Dizem os factos que, nos últimos trinta e seis anos, Portugal foi devastado por sucessivos governos do PS e do PSD (num caso e no outro com o CDS atrelado de vez em quando), todos praticando a mesma política de direita, todos procedendo a um implacável e raivoso ajuste de contas com a Revolução de Abril, as suas conquistas, a sua democracia.
Durante essas mais de três décadas e meia, PS e PSD têm funcionado em modelar serviço combinado: enquanto um está no governo e leva à prática a política de direita comum aos dois, o outro desempenha o papel de «oposição», e vice-versa. E assim tem sido desde o primeiro governo PS, chefiado por Mário Soares – pai da política de direita e origem do mal – até ao actual, do PSD/CDS, chefiado por Passos Coelho.
Foi assim que todas as malfeitorias típicas da política de direita praticadas pelos governos do PS, tiveram o apoio entusiástico do PSD, do mesmo modo que idênticas malfeitorias praticadas pelos governos do PSD contaram sempre com o entusiástico apoio do PS. No caso do pacto de agressão, assinaram todos – com os entusiásticos aplausos de Cavaco Silva, carregado de pesadas culpas no cartório, quer no desempenho das funções de primeiro-ministro, quer enquanto Presidente da República.
Perguntar-se-á: mas entre esses governos não houve uns melhores do que outros? Não: o que houve foi uns piores do que outros, sendo que aquele que, em cada momento está em funções é sempre pior do que o anterior, pelo simples facto de que a cada governo em funções corresponde sempre mais um passo em frente na ofensiva contra Abril e os seus valores.
Pelo que, a pergunta a fazer é: se estiveram os dois – eles e só eles – no governo, praticando a mesma política, alternadamente, durante trinta e seis anos consecutivos, de quem é que hão-de ser as culpas pelo estado a que essa política conduziu o País?