Os bandeirinhas

Henrique Custódio

Há um adorno que, pelos vistos, se tornou obrigatório no trajar dos actuais governantes: a bandeira nacional em miniatura e ostentada na ombreira de todos os membros do Governo, à americana (tinha de ser...) e à parolo (o que o finíssimo senso destes protagonistas não descortinou evitar).

Havia os Bandeirantes. Agora temos os bandeirinhas.

Isto indica que os membros do Executivo passista decidiram passar por patriotas, nesta exibição bandeiral em massa.

O pior é que tal exibição tem, sobretudo, produzido destruição em massa.

Na Saúde – que o tecnocrata da pasta, Paulo Macedo, apresenta como um «sorvedouro de dinheiro» , o ataque ao SNS prossegue o inconfessado (e inconfessável...) projecto de canalizar esse «sorvedouro de dinheiro» para os negócios privados da Saúde.

Assim, em apenas um ano, fechou ou descapitalizou Hospitais e Centros de Saúde, pôs dezenas de milhares de portugueses sem acesso à assistência médico/hospitalar e vibrou golpes tão mortíferos nas carreiras, vencimentos e prestígio profissional de enfermeiros e médicos, que estes últimos o encurralaram esta semana com uma greve geral de dois dias apoiada pelos dois sindicatos e a Ordem dos Médicos e sublinhada por uma concentração – sem precedentes – destes profissionais frente ao Ministério.

Na Educação, o fero Nuno Crato, que tantas patacoadas de Eduquês proferiu em tribunas televisivas, paira, invisível como as aves de rapina, sobre os destroços que vai multiplicando nas escolas que fecham ou se «agrupam», nos professores que são lançados no desemprego ou na precariedade permanente, tudo desembocando nos resultados desta semana nos exames do Secundário, que registaram descidas abruptas e generalizadas, incluindo no Português e na Matemática que o ministro Nuno apontou como alvo imediato das suas «reformas».

Entretanto, o ministro adjunto que tem sido «a figura por trás do trono» do Governo passista – o ubíquo Miguel Relvas , caiu de tranquibérnias sucessivas até ao estatelamento desta semana: a revelação da licenciatura obtida num único ano e sem exames conhecidos. Sendo (até aqui) o rosto omnipresente do Executivo, agora iremos ver com que cara fica o Governo passista.

Não pormenorizando outras devastações (de Mota Soares na SS, onde labuta por a transformar no Ministério das Esmolas, de Paula Teixeira da Cruz, que quer aprofundar a Justiça fechando tribunais às carradas, de Manuel Macedo ou Aguiar Branco, ambos melhorando as Polícias e as Forças Armadas com cortes em salários, efectivos e meios), avancemos.

O corolário surgiu com a decisão do TC em declarar inconstitucional os cortes dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários e pensionistas da FP. Apanhado pela

notícia à entrada de um teatro, o primeiro-ministro Passos Coelho tratou logo de garantir que o compromisso com a troika «não poderia deixar de ser respeitado».

Mas a Constituição, Lei Fundamental do País, já pode ser desrespeitada.

Tudo isto à sombra da bandeirinha.

Para opróbrio da bandeira nacional.



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