«Seguro de vida»
Estamos a viver novo episódio da «oposição construtiva» do PS ao Governo PSD/CDS e à troika estrangeira, a quem, publicamente, Seguro fez saber das suas «discordâncias» quanto aos «prazos do programa de assistência» e ao «peso da austeridade». É claro que o PS tem a sua «forma diferente de fazer oposição», que – esclareceu Seguro – não é do «bota abaixo». O PS apoia o pacto de agressão, mas com «reservas», porque «não acompanha» os seus «instrumentos mais neoliberais», mas o PS de Seguro «honra os compromissos nacionais» do PS de Sócrates.
Como «contra factos não há argumentos», vale a pena descodificar esta lengalenga. O PS apoia o pacto, isto é, apoia o roubo sistemático aos trabalhadores de direitos e salários (palavra estranha ao seu vocabulário «moderno»), apoia o saque ao povo e ao País, apoia a destruição da economia e a regressão social, mas defende que tudo isso seja feito com «rosto humano» e música de Vangelis.
O que é diferente na oposição do PS é que não é oposição. Não é oposição quando se abstém no Orçamento – e Seguro até defendia o voto favorável. Não é oposição quando aceita o ultimato da UE para institucionalizar os limites do défice numa lei quadro. Não é oposição quando ignora, «embora compreenda» a Greve Geral de 24 de Novembro – e veremos como vai ser a 22 de Março. Não é oposição quando promove a burla da «concertação social» ao serviço da exploração e do pacto. Não é oposição quando contrapropõe na AR ainda menos que o CDS. Não é oposição quando «honra» a chantagem das troikas da roubalheira, mas renega o compromisso programático de honra de defender os interesses do povo e do País.
Como diz Relvas, velho amigo de Seguro, o PS é «factor de estabilidade» para esta política e para «consensualizar» a sua continuidade, cada vez para pior. Assim se entendem os muitos e longos conciliábulos de P. Coelho e Seguro – de acordo até quanto ao que dizem sobre as suas diferenças.
O PS não é oposição, mas sim «Seguro de vida» do pacto de agressão e membro do «governo informal» da troika nacional. Por isso tentam que não se afunde, porque, um destes dias, batido pela luta popular e para adiar a sua inevitável derrota, o grande capital pode vir a chamar Seguro e o PS para o governo formal do pacto das troikas.