O atoleiro e o fundamentalismo
O New York Times dedica um editorial ao Afeganistão (18.02.2012). Embora a intenção não seja essa, cada linha desse editorial descreve o atoleiro em que o imperialismo ali se meteu. Em dez anos, 1700 americanos mortos (e quantas dezenas de milhares de afegãos?), 450 milhares de milhões de dólares enterrados.
Para o NYT o Nobel da Paz Obama portou-se melhor que o falcão George Bush. Obama enviou mais 50 000 militares para o Afeganistão, e intensificou o número de operações especiais (leia-se assassínios) que conduziram à morte de Bin Laden e de dezenas de «chefes Al Qaeda e taliban». Ao fim destes anos uma realidade impõe-se: quando os EUA saírem, o Afeganistão implodirá. Nem existe governo, nem sistema bancário, nem serviços básicos, nomeadamente rede de distribuição de energia eléctrica. A corrupção é generalizada. «Projectos de desenvolvimento» que envolveram enormes quantias fracassaram.
Dezenas de milhares de milhões de dólares para a criação de um exército afegão e de uma polícia afegã. Hoje constituem 330 000 efectivos que «não merecem qualquer confiança» e custam 11 mil milhões de dólares anuais. A NATO e o Pentágono querem reduzi-los a 230 000. O que suscita um problema, que mostra bem o calibre desse «exército» e dessa «polícia»: é que remeter para a rua 100 000 destes efectivos pode ser «desastroso». O Afeganistão não tem condições para suportar essas forças, mesmo com dimensões mais reduzidas. O NYT acha que os EUA não devem suportá-las sozinhos, e considera que a administração Obama e o Pentágono devem aproveitar a cimeira de Maio da NATO, em Chicago, para pressionar os aliados a comprometerem-se na partilha da factura, «e a garantir que esse compromisso será cumprido». Logo se verá –
Reconhecendo que não dispõem de condições para derrotar militarmente os taliban, negociarão com eles. As condições são poucas, incluindo a eventual deposição de armas e aceitação da Constituição afegã, com direitos para as mulheres.
A propósito: a afirmação de que «a função essencial da mulher é a educação dos filhos» não foi proferida por um taliban. Foi proferida por um novo cardeal da Igreja católica.