As greves

Manuel Gouveia
Os tra­ba­lha­dores dos trans­portes são tra­tados na Co­mu­ni­cação So­cial Do­mi­nada, grosso modo, como uns pa­ra­sitas: ga­nham for­tunas, tra­ba­lham pouco, têm di­reitos ina­cei­tá­veis e dão um pre­juízo imenso ao País.
E é assim todos os dias, menos quando estão em greve. Sem qual­quer he­si­tação face a tão gri­tante con­tra­dição, passam a im­pres­cin­dí­veis, e a cada greve dos trans­portes somos bom­bar­de­ados com os imensos pre­juízos para o País, para a eco­nomia, para os utentes e para as em­presas dessas greves.
Está, por exemplo, a de­correr uma greve do sector por­tuário. Dizem os pa­trões do sector (e am­pli­fica a sua co­mu­ni­cação so­cial) que vão ter pre­juízos de «de­zenas de mi­lhões de euros» por uma greve de 5 dias de cerca de 700 tra­ba­lha­dores. E logo a se­guir, diz a CIP (e am­pli­fica a sua co­mu­ni­cação so­cial) que é pre­ciso acabar com as «mor­do­mias, as ben­fei­to­rias que os tra­ba­lha­dores por­tuá­rios têm». Pe­rante estes nú­meros, a in­for­mação da Ad­mi­nis­tração da CP (am­pli­fi­cada pela co­mu­ni­cação so­cial) de que a perda de re­ceita de­vidos às greves de 2011 «é da ordem dos oito mi­lhões de euros» até pa­rece co­me­dida.
Nunca se vê ser feita a per­gunta que se impõe: mas então num dia normal de tra­balho, quando lhes tendes que pagar essas mor­do­mias todas, são mi­lhões os lu­cros que ar­re­ca­dais?
É que os tra­ba­lha­dores dos trans­portes, como todos os tra­ba­lha­dores, quando fazem greve, re­cu­sando-se assim a tra­ba­lhar, pro­duzem os efeitos in­versos a quando vão tra­ba­lhar: para si pró­prios, perdem esse dia de sa­lário; para as em­presas, para o País, para os utentes, fazem perder tudo o que lhes dão a ga­nhar num dia de tra­balho.
É também por isso que a greve é uma forma su­pe­rior de luta. O tra­ba­lhador que faz greve, que nesse dia se re­cusa a vender a sua força de tra­balho, sabe que o seu tra­balho cria uma ri­queza muito su­pe­rior e, pelo menos, intui que é essa cri­ação de ri­queza a ver­da­deira base de toda a ri­queza. Os que sabem (ou sim­ples­mente acre­ditam) que são pa­ra­sitas nunca fazem greve!


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