Cândido Capilé foi assassinado há 50 anos

Coragem contra o fascismo

Al­mada evocou, no dia 11, os cin­quenta anos do as­sas­si­nato do ope­rário co­mu­nista Cân­dido Mar­tins Ca­pilé pelas forças da re­pressão, numa ma­ni­fes­tação contra o fas­cismo.

O exemplo de Cân­dido Ca­pilé per­ma­nece meio sé­culo de­pois

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A evo­cação, pro­mo­vida pela Co­missão Con­ce­lhia do PCP, re­a­lizou-se no átrio do an­tigo ci­nema da cen­te­nária In­crível Al­ma­dense, a poucos me­tros do local onde meio sé­culo antes foi as­sas­si­nado o jovem ope­rário. Nela par­ti­ci­param al­guns dos que in­te­graram essa ma­ni­fes­tação, onde se exigiu Li­ber­dade, Paz e Am­nistia para os presos po­lí­ticos – e que foi dis­per­sada a tiro de me­tra­lha­dora pelas forças da re­pressão.

No Avante! da se­gunda quin­zena de No­vembro de 1961, onde se re­lata o su­ce­dido, lê-se que a ma­ni­fes­tação, ini­ciada na Cova da Pi­e­dade, de­parou-se a dada al­tura do seu ca­minho para Al­mada com uma bar­reira po­li­cial – «der­ro­tada» e «for­çada a fugir em de­ban­dada» pela de­ter­mi­nação dos ma­ni­fes­tantes. Após um se­gundo choque com a po­lícia, já em Al­mada, ter re­sul­tado em nova fuga desta, uma força con­junta da PIDE, GNR e PSP, ar­mada com me­tra­lha­doras, opôs-se à marcha.

«Mas as massas não re­cu­aram e con­ti­nu­aram avan­çando ao grito de Abaixo o medo e Não há medo», pros­segue o Avante!, re­la­tando em se­guida a «longa e he­róica luta» tra­vada, em que os ma­ni­fes­tantes «re­cor­riam às pe­dras e a tudo o que po­diam para se de­fen­derem das ar­re­me­tidas da re­pressão e li­bertar, lu­tando com a po­lícia, todos os que aquela pre­tendia en­car­cerar».

Foi então que, «im­po­tentes para conter as massas, os ofi­ciais deram ordem para me­tra­lhar o povo, di­zendo o sub-chefe: “Matam-se uns e os ou­tros abalam.” Pe­rante as con­tí­nuas ra­jadas, o povo, que pedia armas, mas não as tinha, foi for­çado a dis­persar, mas um seu com­pa­nheiro, o ope­rário cor­ti­ceiro Cân­dido Mar­tins Ca­pilé fora morto, as­sas­si­nado por uma das ra­jadas do sub-chefe ou do sar­gento Alves».

Na in­for­mação en­viada à pre­si­dência do Con­selho e ao Mi­nis­tério do In­te­rior pela PIDE, no dia 15 do mesmo mês, traça-se uma breve bi­o­grafia de Cân­dido Ca­pilé: membro da Co­missão Con­ce­lhia de Silves do MUD Ju­venil, onde de­sen­volveu «larga ac­ti­vi­dade», in­gressou mais tarde no PCP, com o pseu­dó­nimo de Ruivo, pas­sando a fazer parte do Co­mité Local. Terá aban­do­nado a sua terra de­pois da prisão de um ele­mento do Co­mité Local para evitar ser preso, fi­xando-se num dos cen­tros cor­ti­ceiros da Margem Sul do Tejo.

 

Nova ma­ni­fes­tação três dias de­pois

 

An­tónio Al­meida, Jo­a­quim do Carmo, Luís Lopes e Carlos Al­berto Ro­sado foram al­guns dos par­ti­ci­pantes na ma­ni­fes­tação de 1961 que dei­xaram o seu tes­te­munho na sessão da pas­sada sexta-feira. E foi com emoção que re­cor­daram a su­cessão dos acon­te­ci­mentos, a bru­ta­li­dade da re­pressão po­li­cial e a imensa so­li­da­ri­e­dade de­mons­trada pelo povo de Al­mada com os ma­ni­fes­tantes.

E todos fa­laram da gran­diosa jor­nada re­a­li­zada no dia 14, quando em Ca­ci­lhas se con­cen­trou uma mul­tidão que es­pe­rava o corpo do jovem cor­ti­ceiro as­sas­si­nado. Corpo que nunca chegou a cruzar o rio, pois a PIDE o des­viou para um ce­mi­tério de Lisboa, ten­tando dessa forma evitar que o fu­neral de Cân­dido Ca­pilé se trans­for­masse noutra grande ma­ni­fes­tação de massas contra o fas­cismo. Conta o Avante! que «às 15 horas, hora fi­xada para o fu­neral, o largo de Ca­ci­lhas es­tava re­pleto de uma mul­tidão que trans­por­tava mi­lhares de ramos de flores. En­con­travam-se ali nu­me­rosas mu­lheres, cri­anças e de­le­ga­ções de tra­ba­lha­dores vindas de todos os pontos da margem Sul, de Lisboa, do Al­garve e de ou­tras re­giões. Grande nú­mero de tra­ba­lha­dores das prin­ci­pais em­presas de Al­mada (Ar­senal, Parry Son, Olho de Boi, etc.) ces­saram o tra­balho».

Por volta das 17 horas, com o largo de Ca­ci­lhas a re­ceber cada vez mais gente (o Avante! es­ti­mava em 20 mil as pes­soas pre­sentes a essa hora), a po­lícia lança sobre a mul­tidão um imenso «apa­rato re­pres­sivo». «Com uma bes­ti­a­li­dade poucas vezes vista, os ver­dugos do povo uti­lizam os ca­valos, as co­ro­nhas das es­pin­gardas, as bai­o­netas, as es­padas. O povo, as mu­lheres e até as cri­anças são es­pan­cados sel­va­ti­ca­mente e os ramos de flores ar­ran­cados das mãos e es­pe­zi­nhados com ódio», in­for­mava o Avante!.

Obri­gada a dis­persar, a mul­tidão volta a con­cen­trar-se e a contra-atacar com as armas que tinha à sua dis­po­sição, no­me­a­da­mente pe­dras da cal­çada. As ma­ni­fes­ta­ções es­tendem-se si­mul­ta­ne­a­mente a di­versos lo­cais do con­celho pros­se­guindo pela noite fora.

Pre­sente na sessão, João Dias Co­elho, da Co­missão Po­lí­tica, lem­brou que no ano de 1961 ocor­reram grandes ac­ções de massas e va­lo­rizou a co­ragem de­mons­trada por Cân­dido Ca­pilé e por todos os ou­tros ma­ni­fes­tantes – co­ragem que é também hoje ne­ces­sária para en­frentar as duras lutas que estão pe­rante o povo por­tu­guês, a co­meçar pela greve geral de dia 24.



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