Faleceu José Manuel Osório
Faleceu, no dia 11 de Agosto, José Manuel Osório, estudioso do fado e militante de longa data do PCP. Numa nota do Secretariado do Comité Central, desse mesmo dia, valoriza-se o seu «talento bem conhecido» e o contributo por si dado à «valorização do fado» – mas também a «dignidade e coragem» com que enfrentou a doença que o acabou por vitimar, o que o fez tornar-se «digno da admiração e apreço de quantos o conheceram».
Também a Direcção do Sector Intelectual da ORL do PCP (organização à qual pertencia) emitiu uma nota nesse mesmo dia, onde lembra o percurso de vida de José Manuel Osório. Nascido em 1947 em Kinshasa, no antigo Congo Belga, José Manuel Osório veio para Portugal ainda criança, frequentando durante a infância e adolescência cursos de piano e ópera. Cedo fascinado pelo fado, e após passar a viver em Lisboa – a partir de 1958 – inicia uma carreira pelas casas de fado da capital e em participações em programas como o Zip Zip ou o 23.ª Hora.
Paralelamente, participou em numerosas encenações teatrais de grupos como A Barraca, a Casa da Comédia ou o Teatro Estúdio de Lisboa, desenvolvendo, a par, uma intensa actividade política – foi militante do PCP desde 1969 até à sua morte (o que o obrigou a viver intermitentemente em Lisboa e Paris entre 1969 e 1974).
Após o 25 de Abril, prossegue a nota do Sector Intelectual, José Manuel Osório foi um dos mais activos participantes nos Cantos Livres e Campanhas de Dinamização do MFA, mantendo sempre uma coerente defesa das suas posições sobre o fado, o que o levou a uma desenvolvida investigação sobre as expressões de temática sindicalista e anarquista. A sua sólida formação cultural levou-o ao convívio com a poesia de diversos autores seus contemporâneos ou tradicionais. Em 1975, José Manuel Osório editou o seu único LP, Por Quem Sempre Combateu, integralmente preenchido com músicas de fados traidicionais e combativas letras de Francisco Viana e Manuel Correia.
Desde 1976, e até que a sua saúde o permitiu, integrou a Comissão de Espectáculos da Festa do Avante!, a ele se devendo, em grande medida, a presença do fado em todas as edições da Festa, com um assinalável padrão de qualidade e revelação de novos talentos. Apesar da doença, que combateu com «invulgar coragem», continuou a desenvolver extenso e precioso trabalho de estudo e levantamento do património fadista, o que definitivamente contribuiu para o trabalho do Museu do Fado, de Lisboa 94, da actual candidatura da UNESCO e para reedições discográficas relevantes.