Vidas na Clandestinidade

Um livro indispensável que nasceu por acaso

Vidas na Clandestinidade, de Cristina Nogueira, apresentado na quinta-feira, é uma obra indispensável para os militantes comunistas e para todos quantos querem ver concretizada a consigna fascismo nunca mais!

Conhecer a história do Partido é essencial para os comunistas

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Já na sua segunda edição, a obra publicada pelas Edições Avante! nasceu praticamente por acaso, como explicou a autora na sessão de apresentação realizada no dia 16 no salão do Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa. Trata-se da adaptação de um capítulo da sua dissertação de Doutoramento em Ciências da Educação, na Universidade do Porto, que se propunha a compreender como alguém permanece por longos anos na clandestinidade. Para tal, afirmou Cristina Nogueira, «tinha que começar por saber como se vivia na clandestinidade».

Como fonte privilegiada para esta investigação, a autora utilizou relatos de alguns dos protagonistas dessa heróica gesta que foi a clandestinidade comunista: Américo Leal, António Dias Lourenço, Domicília Costa, João Honrado, José Vitoriano, Maria da Silva Carvalho, Sérgio Vilarigues, Sofia Ferreira, Teodósia Vagarinho Gregório e Margarida Tengarrinha. Podiam ter sido outros ou estes e mais alguns, afirmou a autora, mas os 10 testemunhos publicados são, de qualquer forma, exemplares.

Na introdução do livro, que nasceu enquanto tal a partir de um convite feito pelo director das Edições Avante! Francisco Melo, que moderou a sessão, Cristina Nogueira conta que, para além da componente académica, era sua convicção que as «vidas na clandestinidade, tal como nos foram narradas, deveriam chegar ao conhecimento de um público mais alargado». É a própria autora que, no mesmo texto, reconhece a pertinência da sua obra num momento em que «o regime fascista português que oprimiu o povo durante 48 anos está hoje remetido para o esquecimento ou até para um branqueamento que pretendemos combater».

Considerando que a memória do chamado «Estado Novo» é hoje pintada em tons idílicos, Cristina Nogueira revela aí que o «motivo primeiro que está na origem desta publicação» é «dar a conhecer testemunhos das vítimas do fascismo», fundamental, prossegue, para a «construção da nossa identidade e da nossa memória colectiva».

 

Uma obra de combate

 

O director do Avante!, José Casanova, a quem coube apresentar o livro, começou por realçar os seus «muitos méritos». A começar por assumir o regime derrubado com a revolução de Abril como sendo fascista, «assim, com todas as letras» (para tal, a autora confessou ter escrito, na tese, todo um capítulo justificativo desta opção).

Outros há que o caracterizam de Estado Novo ou de Antigo Regime – um regime que até reconhecem como autoritário, mas sobretudo paternalista. A historiadora Irene Pimentel, por exemplo, no seu livro de 700 páginas sobre a história da PIDE só se refere ao fascismo quando cita fontes que assim apelidavam o regime. E está muito longe de ser a única, em Portugal ou noutros países europeus onde vigoraram regimes semelhantes, como a Espanha ou a Itália.

Para José Casanova, o objectivo desta imensa manobra ideológica, para além de limpar da consciência colectiva o que foi o fascismo, os métodos repressivos a que recorreu e a quem serviu, procura apagar também uma importante realidade, que foi a resistência antifascista: «não tendo havido fascismo não houve resistência antifascista, pois não se resiste a algo que não existiu.» Remetido para o esquecimento da historiografia oficial é também o papel ímpar desempenhado, ao longo de 48 anos de resistência, pelo PCP, o «único partido que resistiu ao partido único fascista».

Num livro de 170 páginas lançado recentemente por um historiador francês, prefaciado por Mário Soares, não há qualquer referência ao PCP e ao Avante!. E nenhum dos presos políticos citados era comunista – ou seja, acusou José Casanova, mais de 90 por cento dos presos políticos ficaram de fora dessa obra histórica.

 

Lutar vale sempre a pena

 

Outros dos méritos de Vidas Clandestinas é, para José Casanova, o de situar com grande rigor os momentos da história do PCP «e que marcam estes funcionários clandestinos», nomeadamente a reorganização de 1940/41 e o III e IV congressos do Partido (os dois primeiros realizados na clandestinidade). Foi nesta década de 1940 que «nasceu o PCP com as características que tem hoje», ao nível do trabalho colectivo ou da democracia interna, sublinhou o director do Avante!. A reorganização marca a transformação do PCP no «grande partido da resistência antifascista», acrescentou.

José Casanova elogiou ainda o livro por dar a conhecer «vários aspectos da dureza da vida na clandestinidade» e das próprias prisões, «sucedâneo quase inevitável da clandestinidade e da própria opção comunista» nessa época.

Com este livro, afirmou, «todos nós ficamos mais preparados para as lutas de hoje e do futuro», entre as quais a luta pela «preservação da nossa memória colectiva». Para que «deixemos de gritar fascismo nunca mais como objectivo da nossa luta mas como uma realidade».

A terminar, José Casanova citou as últimas linhas do livro: «As vidas dos clandestinos biografados demonstram que é possível sonhar, que é possível lutar por aquilo em que acreditamos e que essa luta vale a pena.» Uma lição a ter em conta nos duros combates que hoje travamos.



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