Milhares recebem Zelaya
Milhares de pessoas receberam o ex-presidente das Honduras, Manuel Zelaya, que este sábado, 28, regressou a Tegucigalpa, após 16 meses de exílio na República Dominicana.
O regresso de Zelaya – afastado do poder por um golpe militar a 28 de Junho de 2009, apadrinhado pelos EUA, pouco tempo antes das eleições, a pretexto de o impedir de levar por diante um referendo sobre uma eventual revisão da Constituição – era a peça que faltava para a readmissão das Honduras na Organização de Estados Americanos (OEA), de que o país foi expulso justamente devido ao golpe.
Zelaya chegou às Honduras acompanhado do ex-presidente do Panamá, Martín Torrijos, da senadora colombiana Piedad Córdoba, representantes de delegações humanitárias e políticas da América Latina e da Europa, para além dos representantes dos governos da Colômbia e da Venezuela, os dois países que mediaram o chamado «Acordo de Cartagena» que permitiu o regresso do ex-governante e de vários outros exilados.
O Acordo, que inclui o reconhecimento da Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP) e o seu direito a constituir-se como partido e a participar na vida política hondurenha, suscita no entanto muitas dúvidas e está longe de ser pacífico. Desde logo porque implicou a aceitação, por Zelaya, de Porfirio Lobo como presidente legítimo do país, apesar das condições de repressão em que decorreu o processo eleitoral.
«Estou aqui graças a vocês, à vossa luta, ao vosso esforço, mas também à vontade do presidente Lobo e da comunidade internacional, porque se não tivesse havido vontade política reconheço que isto não teria sido possível», disse Zelaya aos milhares de apoiantes que o acolheram.
«Venho cheio de optimismo e de esperança de encontrar saída para a crise que gerou o golpe, sem esquecer os mártires caídos neste processo», afirmou.
Contra a impunidade
Justamente entre os que questionam o Acordo de Cartagena conta-se o Comité de Familiares de Detidos-Desaparecidos nas Honduras (Cofadeh), que apesar de saudar o regresso de Zelaya continua sem ter resposta à questão de como e quando vão ser punidos os responsáveis pelos crimes contra a humanidade cometidos durante e depois do golpe.
Esta falta de clarificação levou a Cofadeh, juntamente com outras 20 organizações humanitárias hondurenhas e internacionais, a solicitar à OEA que não aprove ainda o regresso das Honduras à organização.
No mesmo sentido se pronunciou igualmente a FNRP, para quem o Acordo cumpre apenas uma parte das suas reivindicações. Em declarações ao sítio do PCB, Esly Banegas, membro do Comité Político da FNRP assegura que a Frente não abre mão da realização de uma Assembleia Constituinte para dotar o país de uma nova Constituição, exige o fim da impunidade dos responsáveis por perseguições, repressão e assassinatos, e a garantia de respeito pelos direitos humanos. Estas questões não constam do Acordo, pelo que, segundo Banegas, a FNRP «não vai reconhecer este regime continuador do golpe».
«Apoiamos o regresso de Manuel Zelaya, como coordenador do FNRP, mas vamos continuar a fazer oposição a um regime que continua a reprimir o povo e a defender os interesses da oligarquia», afirma.