O Manual de Campanha de Sócrates

Carlos Gonçalves

Este Congresso do PS, embora tivesse decorrido numa espécie de «universo paralelo», em que a mentira mais ou menos aberrante ocultou e mistificou a realidade, comporta elementos para reflexão e intervenção.

Um desses elementos é que as intervenções de Sócrates e da sua «comandita» tiveram como única preocupação a campanha eleitoral e nunca quiseram discutir o que quer que fosse, como deveria acontecer num congresso, ainda por cima do PS, que se vangloria de uma democracia interna que não pratica, mas cujos formalismos quer impor à canhoneira. Aliás é ver como as vozes vagamente desalinhadas ficaram à porta ou foram trucidadas de madrugada – «coincidência», informou Almeida Santos.

Na perspectiva de Sócrates e da sua central de comando do Governo, dos média e do PS, o Congresso foi um grande comício para divulgar a síntese de mentiras e falsidades, que vão repetir exaustivamente até às eleições.

Sócrates (do PS quase nem se fala) não tem culpa de nada e tudo estaria bem se não fosse a crise internacional e os que o demitiram e trouxeram o FMI contra a sua vontade. Não são as políticas de direita de PS/PSD/CDS as responsáveis pela situação e pelo pacto de submissão que aí vem, Sócrates não se auto-demitiu, nem é o seu Governo, às ordens da banca, que traz o FMI para Portugal.

O PEC4 é excelente (o Congresso foi posto a aplaudi-lo de pé), não tem a ver com as políticas do FMI e serve para as enfrentar, não provoca desemprego, recessão, fecho de serviços públicos, ou privatizações (incluindo da CGD), tudo coisas que a direita quer, mas que não existem, que o PS nunca fez, nem quer fazer.

Sócrates é a única esperança para impedir a direita de governar e deve ter os votos de esquerda, ele é o único que não está a «sacudir a água do capote», não é culpa dele e do PS que a direita económica e política «tomem conta de tudo», ou que o CDS se perfile para seu aliado no governo.

É este o Manual de Campanha de Sócrates, um monte de mentiras que tornam o esclarecimento num imperativo de sanidade democrática. E que confirmam a exigência patriótica da derrota do governo e da política de direita e de capitulação nacional.



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