O que existe abaixo da baixa política?

Filipe Diniz

A po­lí­tica de di­reita tem os pro­ta­go­nistas que me­rece.

Nem po­deria ter ou­tros: troca-tintas, al­dra­bões, hi­pó­critas, gente que anda com um pé dentro e outro fora da lei, há de tudo. Este fim-de-se­mana mos­trou-os em todo o seu es­plendor.

Na­tu­ral­mente que a maior con­cen­tração es­teve no Con­gresso do PS, en­ce­nação afi­nada de um dos mais com­pletos es­pec­tá­culos de de­so­nes­ti­dade in­te­lec­tual, po­lí­tica e ide­o­ló­gica que as te­le­vi­sões fi­zeram chegar às nossas casas.

O par­tido que agravou nos úl­timos anos a po­lí­tica de afun­da­mento do País passou dois dias a gabar-se da obra feita e a alijar culpas a eito. A ter a lata de apelar ao «voto útil da es­querda».

Na si­tu­ação de de­ses­pero ac­tual e com a pro­xi­mi­dade do voto po­pular, o PS e o PSD en­tram em de­lírio. O con­gresso do PS foi o que se viu: estão dis­postos a tudo. O PSD veio acres­centar à burla elei­to­ra­lista das «elei­ções para pri­meiro-mi­nistro» uma nova burla, a do «can­di­dato a pre­si­dente da AR». E can­di­data a essa ficção elei­toral uma ficção po­lí­tica, Fer­nando Nobre, que há apenas três meses era o «can­di­dato anti-sis­tema» nas pre­si­den­ciais.

Estes par­tidos, os prin­ci­pais res­pon­sá­veis po­lí­ticos jun­ta­mente com o CDS e com Ca­vaco Silva pela si­tu­ação a que o País chegou, não en­con­traram outra forma de agir senão en­trar pelo ca­minho da farsa.

Cabe ao povo por­tu­guês lem­brar que por de­trás da farsa se es­conde um trá­gico rumo de de­sastre. A in­ter­venção es­tran­geira di­recta está a ca­minho, e os jor­nais lá fora falam claro: «o pa­cote da “ajuda” será mais duro e mais alar­gado do que o PECIV», e «terá de estar acor­dado até me­ados de Maio, de modo a que não possa ser de­sau­to­ri­zado pelas elei­ções de 5 de Junho» (Guar­dian, 8.04.2011). Antes que o povo se pro­nuncie, a UE, o FMI e os par­tidos da po­lí­tica de di­reita querem impor, em termos de au­tên­tica hu­mi­lhação na­ci­onal, a po­lí­tica que o ca­pital fi­nan­ceiro mandou exe­cutar.

Mas a úl­tima pa­lavra ca­berá ao povo, não à baixa po­lí­tica. Os par­tidos da po­lí­tica de di­reita há muito que so­nham com a re­dução dos de­pu­tados à AR. Cabe ao povo re­duzir na AR os de­pu­tados da po­lí­tica de di­reita.



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