A saga socrática e a UE

Maurício Miguel

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José Só­crates e toda a co­mi­tiva do Go­verno PS que par­ti­cipa nas reu­niões do Con­selho em Bru­xelas cos­tumam levar na mala chou­riços, sal­pi­cões, azei­tonas, pas­téis de ba­ca­lhau, queijos e vi­nhos de vá­rias re­giões do nosso País. Por vezes, quando as tem­pe­ra­turas o per­mitem, as­se­gu­rando-se de que as igua­rias não se es­tragam, levam mesmo um co­zido à por­tu­guesa, umas sar­di­nhas de es­ca­beche, um arroz de to­mate com ca­ra­paus fritos, um ba­ca­lhau à la­ga­reiro ou ou­tros pratos da época. Já se fala em festa de ar­romba no Verão: anuncia-se uma sar­di­nhada! Nos in­ter­valos das reu­niões é ver todos os as­ses­sores go­ver­na­men­tais a sacar do farnel, es­tender a to­alha no parque mais pró­ximo da ci­dade, pre­pa­rando a che­gada do pri­meiro-mi­nistro, cujo chega sempre acom­pa­nhado por An­gela Merkel (Ale­manha), Ni­colas Sar­kozy (França), David Ca­meron (Grã-Bre­tanha), José Luiz Za­pa­tero (Es­panha), entre ou­tros. Pelo que nos tem sido con­tado – nestes ban­quetes não en­tramos –, Merkel per­gunta sempre pelos pe­quenos pas­téis de Belém e Za­pa­tero pelos chou­riços alen­te­janos. Este úl­timo tem mesmo dito, à boca pe­quena, com uma pan­ca­dinha nas costas de Só­crates – que o deixa or­gu­lhoso –, que os chou­riços por­tu­gueses são me­lhores que os es­pa­nhóis.

José Só­crates, her­deiro dis­ci­pli­nado da tra­dição dos pri­meiros-mi­nis­tros por­tu­gueses desde a en­trada de Por­tugal na então CEE (PS ou PSD), brinda desta forma tão altas dig­ni­dades, re­pre­sen­tantes de tra­di­ções cu­li­ná­rias tão di­versas e tão ricas mas ver­da­deiros apre­ci­a­dores da por­tu­guesa, ainda que seja em Bru­xelas. Entre eles co­menta-se que não há nin­guém me­lhor do que os pri­meiros-mi­nis­tros por­tu­gueses para or­ga­nizar um bom ban­quete e re­ceber bem. E na hora de tomar de­ci­sões nem se­quer le­vantam pro­blemas!

O pri­meiro-mi­nistro cos­tuma acom­pa­nhar a co­me­zaina com his­tó­rias sobre os feitos da sua go­ver­nação. Nesta úl­tima – re­a­li­zada na se­mana pas­sada – entre dois copos de tinto, contou a his­tória dos pé­ques (PEC), uma saga do tipo «guerra das es­trelas» para im­pres­si­onar os seus pares. Só­crates en­fa­tizou o epi­sódio mais re­cente, elevou a voz e afirmou que este lhes era con­tado em pri­meira-mão, nem os por­tu­gueses ainda o co­nhe­ciam. E vai daí co­meça a contar como irão ser também con­ge­ladas as pen­sões em 2012 e 2013, em como irá ser re­du­zido o ren­di­mento anual dos pen­si­o­nistas isentos de IRS e como irão ser re­du­zidas as pen­sões a partir de de­ter­mi­nados mon­tantes. Sobre os im­postos, contou como estes irão au­mentar ainda mais, re­vendo e li­mi­tando os be­ne­fí­cios e de­du­ções fis­cais em sede de IRS, como eli­mi­nará a taxa re­du­zida de IVA de 6% e 13%, fi­cando apenas a taxa de 23%. Quando se re­feriu às re­du­ções no Ser­viço Na­ci­onal de Saúde, nas trans­fe­rên­cias para as au­tar­quias, nos ser­viços pú­blicos de trans­portes co­lec­tivos e ao en­cer­ra­mento de es­colas, em­bargou-se-lhe a voz, não se pense que o nosso pri­meiro-mi­nistro é pessoa in­sen­sível. Em jeito de fim de his­tória, contou como serão re­du­zidas as in­dem­ni­za­ções pagas pelas em­presas quando des­pedem os tra­ba­lha­dores e aí, conta-se, as lá­grimas inun­davam-lhe o rosto...

É com­pre­en­sível que de­pois de tanta co­mida e emoção, ainda por cima bem re­gada a vinho, o pri­meiro-mi­nistro e os as­ses­sores te­nham sen­tido grandes di­fi­cul­dades para per­ma­necer acor­dados e te­nham ador­me­cido du­rante a reu­nião. Deve ter sido por isso que não se opu­seram à au­tên­tica de­cla­ração de guerra contra os di­reitos so­ciais e la­bo­rais dos tra­ba­lha­dores e povos da Eu­ropa e à sen­tença do tipo co­lo­nial a países como Por­tugal di­tada pela Ale­manha e pela França que de­corre do pro­posto «Pacto para a Com­pe­ti­ti­vi­dade» – agora de­no­mi­nado «Pacto para o Euro». Deve ter sido por isso e não por opção po­lí­tica de fundo que deram acordo a um «pacto» que visa, no­me­a­da­mente, a im­po­sição de po­lí­ticas de baixos sa­lá­rios, do au­mento da idade da re­forma, do ataque ao di­reito à con­tra­tação co­lec­tiva, da des­va­lo­ri­zação da força de tra­balho e de ainda maior des­re­gu­lação das leis la­bo­rais.

À saída da reu­nião todos terão feito uma curta de­cla­ração: «Missão cum­prida!». Uma fonte que não se quis iden­ti­ficar re­velou-nos pos­te­ri­or­mente o enigma: o sen­ti­mento de dever cum­prido de­corre afinal da coin­ci­dência entre as con­clu­sões da reu­nião do Con­selho Ex­tra­or­di­nário dos países da zona Euro e os prin­cí­pios de­fen­didos pela con­fe­de­ração do grande pa­tro­nato na UE (Bu­si­nes­sEu­rope).

José Só­crates e toda a co­mi­tiva do Go­verno PS que par­ti­cipa nas reu­niões do Con­selho em Bru­xelas cos­tumam levar na mala chou­riços, sal­pi­cões, azei­tonas, pas­téis de ba­ca­lhau, queijos e vi­nhos de vá­rias re­giões do nosso País. Por vezes, quando as tem­pe­ra­turas o per­mitem, as­se­gu­rando-se de que as igua­rias não se es­tragam, levam mesmo um co­zido à por­tu­guesa, umas sar­di­nhas de es­ca­beche, um arroz de to­mate com ca­ra­paus fritos, um ba­ca­lhau à la­ga­reiro ou ou­tros pratos da época. Já se fala em festa de ar­romba no Verão: anuncia-se uma sar­di­nhada! Nos in­ter­valos das reu­niões é ver todos os as­ses­sores go­ver­na­men­tais a sacar do farnel, es­tender a to­alha no parque mais pró­ximo da ci­dade, pre­pa­rando a che­gada do pri­meiro-mi­nistro, cujo chega sempre acom­pa­nhado por An­gela Merkel (Ale­manha), Ni­colas Sar­kozy (França), David Ca­meron (Grã-Bre­tanha), José Luiz Za­pa­tero (Es­panha), entre ou­tros. Pelo que nos tem sido con­tado – nestes ban­quetes não en­tramos –, Merkel per­gunta sempre pelos pe­quenos pas­téis de Belém e Za­pa­tero pelos chou­riços alen­te­janos. Este úl­timo tem mesmo dito, à boca pe­quena, com uma pan­ca­dinha nas costas de Só­crates – que o deixa or­gu­lhoso –, que os chou­riços por­tu­gueses são me­lhores que os es­pa­nhóis.

José Só­crates, her­deiro dis­ci­pli­nado da tra­dição dos pri­meiros-mi­nis­tros por­tu­gueses desde a en­trada de Por­tugal na então CEE (PS ou PSD), brinda desta forma tão altas dig­ni­dades, re­pre­sen­tantes de tra­di­ções cu­li­ná­rias tão di­versas e tão ricas mas ver­da­deiros apre­ci­a­dores da por­tu­guesa, ainda que seja em Bru­xelas. Entre eles co­menta-se que não há nin­guém me­lhor do que os pri­meiros-mi­nis­tros por­tu­gueses para or­ga­nizar um bom ban­quete e re­ceber bem. E na hora de tomar de­ci­sões nem se­quer le­vantam pro­blemas!

O pri­meiro-mi­nistro cos­tuma acom­pa­nhar a co­me­zaina com his­tó­rias sobre os feitos da sua go­ver­nação. Nesta úl­tima – re­a­li­zada na se­mana pas­sada – entre dois copos de tinto, contou a his­tória dos pé­ques (PEC), uma saga do tipo «guerra das es­trelas» para im­pres­si­onar os seus pares. Só­crates en­fa­tizou o epi­sódio mais re­cente, elevou a voz e afirmou que este lhes era con­tado em pri­meira-mão, nem os por­tu­gueses ainda o co­nhe­ciam. E vai daí co­meça a contar como irão ser também con­ge­ladas as pen­sões em 2012 e 2013, em como irá ser re­du­zido o ren­di­mento anual dos pen­si­o­nistas isentos de IRS e como irão ser re­du­zidas as pen­sões a partir de de­ter­mi­nados mon­tantes. Sobre os im­postos, contou como estes irão au­mentar ainda mais, re­vendo e li­mi­tando os be­ne­fí­cios e de­du­ções fis­cais em sede de IRS, como eli­mi­nará a taxa re­du­zida de IVA de 6% e 13%, fi­cando apenas a taxa de 23%. Quando se re­feriu às re­du­ções no Ser­viço Na­ci­onal de Saúde, nas trans­fe­rên­cias para as au­tar­quias, nos ser­viços pú­blicos de trans­portes co­lec­tivos e ao en­cer­ra­mento de es­colas, em­bargou-se-lhe a voz, não se pense que o nosso pri­meiro-mi­nistro é pessoa in­sen­sível. Em jeito de fim de his­tória, contou como serão re­du­zidas as in­dem­ni­za­ções pagas pelas em­presas quando des­pedem os tra­ba­lha­dores e aí, conta-se, as lá­grimas inun­davam-lhe o rosto...

É com­pre­en­sível que de­pois de tanta co­mida e emoção, ainda por cima bem re­gada a vinho, o pri­meiro-mi­nistro e os as­ses­sores te­nham sen­tido grandes di­fi­cul­dades para per­ma­necer acor­dados e te­nham ador­me­cido du­rante a reu­nião. Deve ter sido por isso que não se opu­seram à au­tên­tica de­cla­ração de guerra contra os di­reitos so­ciais e la­bo­rais dos tra­ba­lha­dores e povos da Eu­ropa e à sen­tença do tipo co­lo­nial a países como Por­tugal di­tada pela Ale­manha e pela França que de­corre do pro­posto «Pacto para a Com­pe­ti­ti­vi­dade» – agora de­no­mi­nado «Pacto para o Euro». Deve ter sido por isso e não por opção po­lí­tica de fundo que deram acordo a um «pacto» que visa, no­me­a­da­mente, a im­po­sição de po­lí­ticas de baixos sa­lá­rios, do au­mento da idade da re­forma, do ataque ao di­reito à con­tra­tação co­lec­tiva, da des­va­lo­ri­zação da força de tra­balho e de ainda maior des­re­gu­lação das leis la­bo­rais.

À saída da reu­nião todos terão feito uma curta de­cla­ração: «Missão cum­prida!». Uma fonte que não se quis iden­ti­ficar re­velou-nos pos­te­ri­or­mente o enigma: o sen­ti­mento de dever cum­prido de­corre afinal da coin­ci­dência entre as con­clu­sões da reu­nião do Con­selho Ex­tra­or­di­nário dos países da zona Euro e os prin­cí­pios de­fen­didos pela con­fe­de­ração do grande pa­tro­nato na UE (Bu­si­nes­sEu­rope).



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