Romper com discurso falso
Em matéria ambiental o PS e o Governo apregoam uma coisa e fazem outra, considerou o deputado comunista Miguel Tiago, repudiando o discurso hipócrita de quem se diz preocupado com as alterações climáticas, mas, simultaneamente, «generaliza o cultivo de organismos geneticamente modificados que destroem a agricultura nacional, desertifica o interior e obriga as pessoas a concentrarem-se no litoral.
«É altura de romper com este discurso falso que parte do princípio que é possível harmonizar a preocupação com o ambiente com a selvajaria total das privatizações da água e das energias, com a total delapidação dos recursos naturais, com a destruição do aparelho produtivo nacional», sublinhou o parlamentar do PCP, faz hoje oito dias, reagindo a uma intervenção do deputado Renato Sampaio (PS) que fizera a apologia da política governamental de «combate às alterações climáticas» e sua aposta nas «energias renováveis».
Discordando da leitura da bancada que apoia o Governo, Miguel Tiago realçou que não é a pagar licenças de emissão de dióxido carbono que se «evita a emissão de mais uma tonelada de CO2».
A solução está, isso sim, defendeu, numa «política de generalização do transporte público e numa política sustentada do território e não na litoralização total do País, no desmantelamento do aparelho produtivo, na generalização da importação, designadamente de bens perecíveis e bens de consumo».
Miguel Tiago expressava assim a inteira convergência da sua bancada com o Partido Ecologista «Os Verdes» no que toca aos efeitos da política do Governo em termos de gestão do território e das actividades. A deputada ecologista Heloísa Apolónia pronunciara-se momentos antes em declaração política sobre as alterações climáticas, a propósito da cimeira de Cancún, que classificou como um «fracasso» na linha aliás da cimeira de Copenhaga.
Para a deputada de «Os Verdes» a cimeira que terminou no México na passada sexta-feira «não serviu para nada, para absolutamente nada, e já se está a adiar para o ano qualquer solução de combate às alterações climáticas, na cimeira que terá lugar na África do Sul, ou até para a cimeira que decorrerá em 2012 no Brasil»
Heloísa Apolónia sustentou que os EUA, «o maior emissor per capita do Mundo, não querem baixar as suas emissões para além da ordem dos dez por cento», valor muito abaixo ao que é sugerido pela comunidade científica, que fala na necessidade de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa entre 25 e 40 por cento até 2020.