Mobilização popular em França

Greves terminam, luta prossegue

Os sectores em greve há várias semanas, em França, retomaram o trabalho após a última jornada de dia 28. Mas, no próximo sábado, 6, os franceses voltam às ruas para exigir a não promulgação da lei das pensões entretanto aprovada.

A luta de massas em França pode conhecer novos surtos

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No dia seguinte à ratificação final da lei das pensões na Assembleia Nacional, quinta-feira, 28, cerca de dois milhões de trabalhadores participaram em 269 desfiles por toda a França, naquela que foi a sétima jornada desde Setembro e a décima primeira desde o Março.

Numa semana em que os franceses gozam de férias curtas e as escolas se encontram encerradas, a poderosa mobilização desmentiu aqueles que anteciparam o esgotamento do movimento.

Segundo os sindicatos, cerca de dois milhões de pessoas saíram à rua em todo o país. Em Paris desfilaram 170 mil pessoas, contra 330 mil em 19 de Outubro, e na maioria das outras cidades, as manifestações foram igualmente mais pequenas, mas ainda assim impressionantes: 150 mil em Marselha, 120 mil em Toulouse, 32 mil em Lyon.

Embora com uma participação inferior às registadas nas semanas anteriores, a presença de milhões de franceses nas ruas foi de tal modo expressiva, que nem mesmo o presidente Sarkozy a pôde ignorar. Numa declaração pública no dia seguinte, o chefe de Estado assegurou ter ouvido os protestos, mas mantém a lei.

 

Novas mobilizações

 

O grande descontentamento dos franceses face à intransigência do governo de Sarkozy está bem expresso na abrupta queda de popularidade do presidente da República para 29 por cento, o seu mais baixo nível desde a eleição em Setembro de 2006.

Pelo contrário, sondagens consecutivas mostraram que o movimento de protesto contou sempre com um elevadíssimo apoio da população, na ordem dos 70 por cento.

Assim não é de descartar um novo ascenso da luta de massas nas próximas semanas. Na educação, onde 800 liceus e uma dezena de universidades estiveram encerrados, os estudantes ameaçam com novas mobilizações contra a lei das pensões, a começar já hoje, dia 4.

Na transportadora aérea Air France, seis sindicatos convocaram para hoje uma greve na companhia. Três outros sindicatos de pilotos e pessoal de bordo anunciaram uma paralisação de quatro dias, entre amanhã, sexta-feira e segunda-feira.

 

À beira da ruptura total

 

As greves, que paralisaram durante 33 dias os dois principais portos franceses e durante duas semanas as 12 refinarias e depósitos do país, estiveram prestes a provocar o colapso da economia.

Com visível alívio, o ministro da Energia, Jean-Louis Borloo, afirmou, no domingo, 31, que «a França esteve à beira de uma catástrofe económica absoluta».

Entretanto, apesar da suspensão das greves, em particular no sector dos combustíveis, o regresso à normalidade nas refinarias e nos portos demorará ainda vários dias ou mesmo semanas.

Na sexta-feira, 29, cerca de 80 navios, dos quais 38 petroleiros, aguardavam vez para descarregar nos portos de Marselha e do Havre. Calcula-se que será preciso um mês para descongestionar os pontos de descarga de crude, gás e produtos refinados.

Aqui, para além do projecto das pensões, a paralisação foi provocada pela chamada reestruturação portuária, que prevê a entrega da gestão dos terminais petrolíferos a uma nova empresa, participada em 40 por cento por capitais privados.

Não tendo sido divulgados quaisquer avanços nas negociações entre as partes, não é certo que este conflito esteja sanado.



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