Rapinar, rapinar sempre
Aproveitando as cerimónias dos atentados de 2001 contra as «torres gémeas», em Nova Iorque (EUA), os meios de comunicação social do imperialismo voltaram, uma vez mais, a insistir na versão oficial dos acontecimentos. Novos dados e diferentes versões têm vindo a ser conhecidos, mas a versão oficial não parece poder ser contestada. Ai de quem ouse colocar em causa o «acto fundador» da doutrina da «luta contra o terrorismo»! Não é questionável impor ao mundo as guerras preventivas – Afeganistão, Iraque, Somália... – e os ataques aos direitos liberdades e garantias que vão sendo levados a cabo nos EUA, na União Europeia e em muitos outros países por pressão destes. É para o nosso bem, para «nos defender», dizem! Nesta versão moderna da Inquisição, todo aquele que colocar em causa a versão oficial é imediatamente acusado de ser um terrorista, ou de ter ligações com «organizações suspeitas». Há felizmente quem não se resigne a engolir patranhas, quem analise as coisas pelo que elas são e pelos efeitos práticos que têm.
O actual inquilino da Casa Branca, Barack Obama, segue, com ajustes tácticos, a política seguida por George Bush, em nada contribuindo para dissipar o nevoeiro que paira sobre esses acontecimentos. A comissão do congresso americano encarregue de investigar o que aconteceu em 11 de Setembro de 2001, afirmou que a CIA tinha «obstruído» o desenvolvimento das suas investigações. Envolto numa campanha de propaganda muito forte que o levou até ao Prémio Nobel da Paz, Obama acentuou a militarização das relações internacionais: ameaçando o Irão, enviando mais tropas para o Afeganistão, encenando uma retirada de tropas do Iraque, mantendo nesse país 50 mil soldados, instalando mais bases militares na América Latina, desenvolvendo programas de novas armas, preparando-se para assinar programas da «maior ajuda militar de sempre» à Arábia Saudita, nova ajuda militar a Israel e a outros aliados árabes. Estas são algumas das consequências do 11 de Setembro que põem a nu, através dos seus efeitos a sua natureza.
«Ver um crime e não fazer nada, é ser-se cúmplice»
Os EUA contam com a UE como sua aliada numa política de concertação estratégica do eixo transatlântico. EUA e UE são hoje responsáveis directos ou indirectos por muitos crimes e saques em muitas regiões do mundo. Vale tudo: aqueles que ontem eram amigos para destruir no Afeganistão um regime progressista, como os talibãs, são hoje considerados os maiores «inimigos» e alvo a abater.
O eixo transatlântico conta também com uma ONU cada vez mais instrumentalizada. Ainda recentemente o jornal francês Le Monde referia a existência de um relatório da ONU sobre os «crimes sistemáticos» que podem ser classificados de «genocídio» cometidos na Republica Democrática do Congo entre 1993 e 2003 pela Frente Patriótica do Ruanda, partido do actual presidente desse país, Paul Kagame. Poucos dias depois de alguma imprensa ter referido a existência deste relatório, o governo ruandês ameaçava com a retirada das suas tropas de missões da ONU caso esse relatório fosse tornado público. Kagame é mais um dos muitos produtos made in EUA, um velho aliado que o imperialismo utilizou para a sua estratégia de dominação das enormes riquezas naturais do Congo e de toda a região africana dos Grandes Lagos. Os telemóveis e os computadores que utilizamos têm componentes feitos a partir de minerais vindos dessa região. Para isso servem os milhões de mortos que contam os conflitos financiados e estimulados a partir do exterior na região. Não sabemos se o relatório será efectivamente tornado público e que consequências daí advirão, não seria a primeira vez que os EUA e a UE abandonariam um aliado, quando ele deixa de ser válido para a sua estratégia. Nem seria a primeira vez que um relatório como este da ONU seria deixado na gaveta.
No Congo, no Afeganistão, no Ruanda ou em qualquer outro lugar, a estratégia do imperialismo é sempre a da rapina. Pode ser a «luta contra o terrorismo», pode ser a intervenção para parar «conflitos étnicos» ou religiosos, pode ser o «combate à pirataria» – para o imperialismo toda a mentira é válida.