Obrigado, Catarina
Mais de cinco dezenas de camaradas e amigos reuniram-se em Vale de Vargo, terra natal de Catarina Rafael, recentemente falecida, dirigindo-se, na manhã de sol de domingo, ao cemitério onde ficaram depositadas as cinzas da camarada, na campa do seu companheiro, Joaquim Rafael, cuja vida partilhou até pouco depois do 25 de Abril de 1974, quando a doença, provocada pelo chumbo das tipografias o levou do nosso convívio. Para além dos familiares – Mariana, Catarina, Armando e Sérgio, entre outros – estiveram presentes dirigentes do Partido – Manuela Bernardino, do Secretariado do Comité Central, Miguel Madeira, do CC e responsável da Organização Regional de Beja do PCP e Maria José Borralho, responsável pela Comissão de Freguesia de Vale de Vargo.
Em comoventes palavras, Miguel Quaresma, sobrinho de Catarina, recordou o exemplo da tia, figura ausente durante toda a sua infância, lembrada pela avó, que lhe impressionou, na sua consciência de criança, a imagem de uma mulher corajosa que escolhera a clandestinidade para contribuir melhor, com a sua luta, para a transformação do mundo. «Obrigado, tia Catarina», disse Miguel Quaresma, «pelo exemplo de vida, tenacidade, coragem e abnegação à tua, que também é a nossa causa: a libertação da humanidade da exploração do homem pelo homem e a construção de uma sociedade justa, a sociedade comunista».
Interveio por fim a camarada Manuela Bernardino, do Secretariado do CC, que também lembrou o percurso militante da homenageada, que saíra da sua terra com 29 anos para entrar na clandestinidade e passar muitos anos da sua vida dedicada ao trabalho nas tipografias clandestinas do Partido. «Fê-lo consciente da importância da opção que tomou ao dedicar-se inteiramente à luta do seu povo contra o fascismo, como quadro clandestino do seu partido – o Partido Comunista Português.»
«A homenagem que estamos aqui a prestar a Catarina Machado Rafael, quando as suas cinzas são colocadas na sua terra natal, é não só merecida pelo que foi a sua vida de revolucionária profissional, como é também necessária para hoje recordar e evocar exemplos de extraordinária dedicação e abnegação, neste tempo de apelo ao conformismo e ao individualismo, de crescentes dificuldades para a vida do nosso povo, num quadro de ataques às liberdades e à democracia e de condenação dos ideais pelos quais ela lutou toda a sua vida.»
No seguimento da homenagem, realizou-se uma visita à exposição preparada sobre as tipografias clandestinas, que produziram milhões de exemplares, não só do Avante! como de outros títulos que o PCP editou durante a luta antifascista. Os camaradas Maria e Raul Costa, eles também tipógrafos da clandestinidade, exemplificaram perante os presentes, a produção dos documentos partidários no velho prelo que tantas palavras de luta e de esperança imprimiu. No final houve lugar a um colóquio sobre o papel do Avante!, voz do Partido, ontem como hoje, que escreve a verdade que todos os outros pretendem calar.