Nacionalizações evocadas em Setúbal
«O processo de nacionalizações de 1975, cujo aniversário comemoramos, constituiu uma inapagável realização de Abril, da classe operária, dos trabalhadores e do povo português», afirmou, anteontem, em Setúbal, Jerónimo de Sousa, numa sessão pública sobre «Nacionalizações e democracia económica».
Para o Secretário-geral do PCP, este processo não resultou de um «qualquer acto voluntarista» mas, por outro lado, de uma «necessidade objectiva»: para defender a «democracia nascente», responder à sabotagem económica da contra-revolução e dotar o País de um instrumento «capaz de promover o seu desenvolvimento com justiça na distribuição da riqueza nacional».
No final do primeiro semestre de 1976, as nacionalizações abrangiam quase duas centenas e meia de empresas, com particular destaque para os sectores da banca e seguros, energia, transportes, metalurgia e metalomecânica pesada, químico, celulose. Mas apesar do sucesso demonstrado, esta via de desenvolvimento foi posta em causa «desde muito cedo pela acção da contra-revolução e pela política de recuperação capitalista e restauração monopolista, promovida pelo PS, PSD e CDS-PP».
Se no início dos anos 90, a dívida pública representava 57,8 por cento do PIB, hoje, após o Estado ter encaixado mais de 27 mil milhões de euros, esta atinge os 77,2 por cento do PIB. «Foram-se as empresas e aumentou a dívida.» Entretanto, os lucros acumulados por 12 grandes grupos desde que este Governo está em funções (e só nos sectores da banca, energia, comunicações, cimentos e transportes) somaram o valor que essas empresas renderam ao Estado quando foram vendidas.
«As privatizações anunciadas no PEC, envolvendo 17 empresas do sector empresarial do Estado, vão agravar todos os problemas decorrentes das anteriores privatizações», acrescentou o dirigente comunista.