Convergência perigosa
À medida que PS e PSD iam anunciando a sua concertação, o PCP acusava-os de estarem a impor mais sacrifícios aos trabalhadores, aos desempregados e aos reformados.
As agências de notação calaram-se perante a especulação e as fraudes
Muito se falou, na semana passada, da convergência entre o Governo e o PSD (que contou com o apoio do Presidente da República) – ensaiada para, alegadamente, enfrentar os ataques especulativos de que o País está a ser alvo. O seu resultado imediato foi o anúncio, por parte do Governo, do agravamento de algumas medidas previstas no PEC e a antecipação da sua aplicação.
Ao contrário de vários sectores e personalidades fortemente comprometidos com a política de direita, que saudaram esta concertação, o PCP, por outro lado, acusa PS e PSD de aceitarem a chantagem do grande capital e pedirem mais sacrifícios aos trabalhadores. Numa conferência de imprensa realizada na quinta-feira, 29, o Secretário-geral do Partido denunciou o «fortíssimo ataque» lançado pelo grande capital financeiro contra a economia nacional, «visando apoderar-se de importantes recursos nacionais, extorquir milhões de euros dos nossos recursos por via da dívida, tornar mais dependente aquele que é hoje um dos países mais dependentes da União Europeia».
Na véspera, na sessão pública sobre os 120 anos do 1.º de Maio, Jerónimo de Sousa afirmara que o capital financeiro «soltou os cães», referindo-se às agências de notação – as mesmas que, em plena crise, e «perante a especulação, as fraudes e os abusos, calaram».
Assim, destacou o dirigente comunista, a «concertação entre PS e PSD, no seguimento dos entendimento verificados sobre o Orçamento do Estado e sobre o PEC, não irá trazer nada de novo nem “acalmar os mercados”». Destina-se, antes, a «aprofundar os aspectos mais negativos da política de desastre económico e social de que ambos têm sido responsáveis ao longo dos últimos 34 anos».
E foi mais longe: PS e PSD «não se limitam a aceitar a chantagem do grande capital, usam-na para dobrar a parada na exigência e aceleração de sacrifícios aos trabalhadores, aos que estão desempregados, aos reformados, aos pequenos e médios empresários». O que pretendem é «entregar mais dinheiro aos especuladores», ao invés de resolverem os problemas nacionais.
Uma questão de opção
Como afirmou Jerónimo de Sousa em ambas as ocasiões, «se existisse vontade da Comissão Europeia e do Governo português, a actual operação especulativa poderia ser interrompida desde já». Mas não é esse o caminho que está a ser seguido, acusou o dirigente comunista.
Neste momento, o que se exigia era uma nova política e uma «enérgica tomada de posição contra as restrições da União Económica e Monetária e a exigência do fim da especulação, que estão a arrastar o País para o desastre». E o que propõem PS e PSD? A cedência às reclamações do grande capital: «novos cortes nos salários, no subsídio de desemprego e noutras prestações sociais; o alargamento da jornada de trabalho; a privatização de serviços e empresas do Estado. E vamos ver o que mais, quando se sentirem com condições para isso!»
O dirigente comunista estendeu, em seguida, as suas críticas às instituições europeias, questionando os motivos que levaram o Banco Central Europeu a não ajudar os países em dificuldades, depois de ter emprestado dinheiro a «juro baixíssimo» ao capital financeiro. A decisão caberia à Comissão Europeia e os recursos «não faltariam», como não faltaram. O que estas instituições não são capazes de explicar é por que é que os estados «tiveram de se endividar com essas transferências colossais de dinheiro para a banca».
Para esta política, não podem contar com o PCP, reafirmou Jerónimo de Sousa. «Contarão, sim, com a nossa firme intervenção na denúncia destas medidas, contarão com o PCP na afirmação de uma política alternativa, na mobilização para a luta contra o PEC e a política de direita.»