O que faremos com esses votos?

Vasco Cardoso (Membro da Comissão Política do PCP)
Está a chegar ao fim a campanha eleitoral da CDU, a segunda de um exigente ciclo de três eleições. Tal como afirmámos, a acção eleitoral da CDU foi uma grande campanha de mobilização e participação popular, uma grande acção de contacto directo com os trabalhadores e com as populações, numa intervenção ímpar de esclarecimento e convencimento junto das massas, levada a cabo por milhares de activistas que deram forma a mais esta jornada de luta.

São muitas as ra­zões que temos para con­fiar nas pos­si­bi­li­dades de cres­ci­mento e avanço da CDU

Uma campanha que foi encarada por todo o colectivo partidário como a mais importante batalha política do momento, e que foi determinante para combater a barreira de silenciamento e discriminação imposta pela comunicação social e de escandalosa promoção e favorecimento de outras forças políticas – todas sem excepção –, numa tentativa, tanto escandalosa quanto evidente, de condicionamento da vontade popular e de construção de um resultado à medida dos interesses dos grupos económicos e financeiros.
Uma campanha que trouxe para o debate político os problemas dos trabalhadores, as injustiças e desigualdades, os salários, os apoios do Estado aos grupos económicos, a destruição do aparelho produtivo e a necessidade de aumentar a produção nacional.
Uma campanha que deu expressão à exigência de melhores serviços públicos, denunciou as consequências das privatizações e colocou como questão central para a democracia económica e soberania do País o controlo dos sectores estratégicos da nossa economia, designadamente na banca, na energia, nos transportes e nas telecomunicações, pelo Estado.
Uma campanha que falou daquilo que interessa, dos problemas, das políticas, das opções de cada força política, da situação do País e das propostas para uma vida melhor e que, por isso, recusou ficar prisioneira dos «casos», das «notícias do dia», que diariamente foram sendo lançadas para facilitar a vida a PS e PSD na afirmação de «diferenças» quando a sua política, nos eixos essenciais, é há mais de 33 anos a mesma.
Uma campanha onde os eleitos e candidatos da CDU prestaram contas do trabalho realizado e apresentaram propostas para o País. Onde se afirmou a necessidade de uma ruptura e de uma mudança e a possibilidade de construção de uma política alternativa de esquerda. Uma campanha dirigida em primeiro lugar aos trabalhadores, vítimas do agravamento da exploração e da crise capitalista e dos desmandos do avanço da política de direita, mas também aos reformados, à juventude, aos pequenos empresários, aos agricultores, ao povo português.

Eleger mais de­pu­tados

Esta campanha, aliás inseparável das muitas jornadas de luta que fomos travando contra a política de direita, combateu ainda a resignação, o conformismo, a descrença e introduziu ânimo e confiança na possibilidade de uma mudança a sério na vida política nacional. Foi uma campanha que combateu a direita e a política de direita, recusando a velha e gasta chantagem com que o PS tem levado ao engano milhares de eleitores que temem genuinamente o regresso do PSD e CDS-PP ao poder.
Uma campanha que falou verdade ao Povo, que recusou as frases feitas, o verbo fácil, o assunto da moda. Que com seriedade combateu a mistificação de que estamos a eleger um «primeiro-ministro», como fez PS, PSD, CDS e BE, e que reafirmou ser da correlação de forças que se vier a verificar na próxima Assembleia da República que sairá não apenas o Governo mas também as medidas que num sentido ou noutro venham a ser aplicadas.
E tendo sido esta a campanha que realizámos, são muitas as razões que temos para confiar nas possibilidades de crescimento e avanço da CDU no dia 27. Mais votos e mais deputados, é esse e não outro o objectivo que queremos alcançar nestas eleições. Mais votos e mais deputados que, seja em que circunstâncias for, serão transformados em acção e luta depois das eleições. Mais votos e mais deputados que serão sempre, mas sempre, um passo em frente na exigência de uma ruptura e de uma mudança, na defesa dos ideais de Abril e do regime democrático. Mais votos e mais deputados para contrariar medidas negativas e dar força a resoluções e leis favoráveis à justiça social, ao desenvolvimento económico, aos direitos dos trabalhadores e à soberania do País. Mais votos e mais deputados que contam sempre para determinar um governo de mudança capaz de responder aos gravíssimos problemas do País e de construir uma vida melhor.
Conscientes de que a tarefa principal que temos por diante até às 19 horas do dia 27 de Setembro é a de mobilização e convencimento, um a um, para o voto na CDU, bem podemos dizer que a principal tarefa que se nos vai colocar depois das 19 horas é a da realização de uma grande campanha eleitoral para as autarquias locais, que começará ainda nessa noite e para a qual vamos novamente necessitar de todas as forças, de toda a determinação e confiança que nos trouxeram até aqui.


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