Cultura antidemocrática
A marcar o debate do estado da Nação esteve ainda o comportamento do ministro da Economia que, por via de um gesto indigno, foi obrigado a demitir-se. Ao contrário dos muitos milhares de trabalhadores que nos últimos anos têm sido empurrados para o desemprego vendo-se em palpos de aranha para dar rumo às suas vidas, sabe-se que Manuel Pinho não terá de passar por esse calvário dado que a mão amiga de Joe Berardo já fez saber ter um lugar à sua espera na administração do museu que tem o seu nome mas que é pago com o dinheiro de todos nós.
Mas o que esta insólita ocorrência pôs a nu não foi um acto imaturo, contingente, de quem cometeu mais uma gafe ou um gesto irreflectido. O que este episódio revelou, isso sim, verdadeiramente, foi a falta de cultura democrática de um ministro que mostrou conviver mal com o contraditório, com a opinião diferente da sua e, acima de tudo, mostrou não compreender as regras do debate parlamentar nem os papéis próprios da cada órgão de soberania.
Mas não só. Mais e mais grave, o ar ameaçador com que acompanhou o referido gesto, em que pareceu estar bem treinado (cornos, não com uma mas com as duas mãos e sobre a sua própria cabeça) dirigido ao presidente do Grupo Parlamentar do PCP, Bernardino Soares - que se limitara em aparte a lembrar o papel de intermediário da EDP que o ministro assumira num acto de propaganda em Aljustrel - , o que trouxe a lume, com grande nitidez, foi o nervosismo, a irritação e o destempero de quem, confrontado com as suas patifarias e mentiras, acossado, sentindo-se desmascarado, recorre ao insulto em absoluto desespero.
Mas é bom que se diga que esta postura é, afinal, também, filha dilecta de um certo estilo e da cultura dominante de um governo que, embora diga com frequência o contrário, deu abundantes e repetidos sinais nestes quatro anos de completo desrespeito pela Assembleia da República e pelos seu deputados, como ficou patente, por exemplo, nos debates quinzenais onde o primeiro-ministro se furtou de forma sistemática e ostensiva às questões que lhe eram dirigidas ou, noutro plano ainda, na falta de resposta cabal dada pelos diferentes ministérios às perguntas e requerimentos dos deputados.
Mas o que esta insólita ocorrência pôs a nu não foi um acto imaturo, contingente, de quem cometeu mais uma gafe ou um gesto irreflectido. O que este episódio revelou, isso sim, verdadeiramente, foi a falta de cultura democrática de um ministro que mostrou conviver mal com o contraditório, com a opinião diferente da sua e, acima de tudo, mostrou não compreender as regras do debate parlamentar nem os papéis próprios da cada órgão de soberania.
Mas não só. Mais e mais grave, o ar ameaçador com que acompanhou o referido gesto, em que pareceu estar bem treinado (cornos, não com uma mas com as duas mãos e sobre a sua própria cabeça) dirigido ao presidente do Grupo Parlamentar do PCP, Bernardino Soares - que se limitara em aparte a lembrar o papel de intermediário da EDP que o ministro assumira num acto de propaganda em Aljustrel - , o que trouxe a lume, com grande nitidez, foi o nervosismo, a irritação e o destempero de quem, confrontado com as suas patifarias e mentiras, acossado, sentindo-se desmascarado, recorre ao insulto em absoluto desespero.
Mas é bom que se diga que esta postura é, afinal, também, filha dilecta de um certo estilo e da cultura dominante de um governo que, embora diga com frequência o contrário, deu abundantes e repetidos sinais nestes quatro anos de completo desrespeito pela Assembleia da República e pelos seu deputados, como ficou patente, por exemplo, nos debates quinzenais onde o primeiro-ministro se furtou de forma sistemática e ostensiva às questões que lhe eram dirigidas ou, noutro plano ainda, na falta de resposta cabal dada pelos diferentes ministérios às perguntas e requerimentos dos deputados.