Hipotecar o futuro
Com o «apoio aos estudantes» em pano de fundo, aproveitado pelo primeiro-ministro para anunciar a escassos meses de eleições aumentos das bolsas de acção social escolar no ensino superior, este debate quinzenal com o chefe do Governo não mostrou qualquer sinal efectivo de mudança quer no estilo quer na substância das orientações que presidem às suas medidas de política.
O que levou o Secretário-geral do PCP a confessar com uma ponta de ironia no início da sua intervenção que se enganara ao pensar que José Sócrates viria ao Parlamento reconhecer que entre os erros da sua governação estavam os impactos negativos da política de educação, particularmente no ensino superior.
E que viesse designadamente alterar a posição, em especial do grupo parlamentar do PS, relativamente às iniciativas legislativas do PCP sobre, entre outras matérias, o alargamento do apoio social, transportes e alimentação, alojamento e isenção de propinas no ensino superior.
Ora a verdade é que não foi nada disto que o primeiro-ministro veio dizer neste último debate quinzenal da legislatura, bem pelo contrário, como salientou Jerónimo de Sousa, o que «veio dizer aos estudantes é que continuarão a pagar propinas, poderão continuar a endividar-se e a hipotecar o seu futuro para pagarem aquilo que devia ser gratuito».
Bolsas em atraso
Daí que, avaliando as medidas anunciadas por José Sócrates, nomeadamente quanto às bolsas, o dirigente do PCP as tenha classificado como «um passinho».
E refreou o entusiasmo do anúncio de Sócrates, a exalar eleitoralismo, ao lembrar que centenas de estudantes estão a receber as suas bolsas com meses e meses sucessivos de atraso. «Não é uma boa altura para considerar a correcção desta situação, que leva ao desespero tantos estudantes?», perguntou Jerónimo de Sousa.
«Lamento desiludi-lo, mas não há bolsas em atraso», respondeu o primeiro-ministro. Perante as reacções em contrário expressas em apartes oriundos da bancada do PCP, acabou por admitir que afinal essa situação poderá mesmo estar a ocorrer ao afirmar que «se houver bolsas em atraso» o seu Governo terá «o maior gosto em pagá-las imediatamente», porque, esclareceu, esse é o seu «dever» e a sua «função».
Ora a verdade é que são vários os casos de atraso no pagamento das bolsas de estudo a estudantes do ensino superior público que têm chegado ao conhecimento do Grupo Parlamentar do PCP e que motivaram já, inclusive, várias diligências, por escrito e verbalmente, junto do Governo, a última das quais sob a forma de pergunta formalizada em 18 de Junho pelo deputado Miguel Tiago.
Nela é recordado, nomeadamente, que à formação comunista chegou a informação de atrasos no pagamento de prestações em diversas academias, concretamente na Universidade de Aveiro (onde, inclusivamente, houve um abaixo-assinado subscrito por mais de 700 estudantes) e na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (onde só em Fevereiro, Março e até Maio é que foram pagas as prestações correspondentes a todo o ano lectivo desde o seu início).
O dirigente comunista questionou igualmente o primeiro-ministro sobre se «vai ou não alterar a política de angariação de clientes para a banca entre os estudantes do Superior», lembrando que esta «persistência leva a que os estudantes continuem a endividar-se».
Aludindo às palavras antes proferidas por Sócrates quando este diz que as medidas por si anunciadas se destinariam a combater a discriminação, Jerónimo de Sousa perguntou: «V. Exa acredita mesmo naquilo que está a dizer? Acredita que há quem possa pagar cinco mil euros de propinas nos segundos ciclos? Está a dizer isso a sério?». E concluiu, numa crítica cerrada: «É inaceitável que o possa dizer, porque sabe que há muitas famílias portuguesas que não suportam o pagamento de propinas que o Governo impõe e que continuam a martirizar e a excluir muitos estudantes do ensino superior».
O que levou o Secretário-geral do PCP a confessar com uma ponta de ironia no início da sua intervenção que se enganara ao pensar que José Sócrates viria ao Parlamento reconhecer que entre os erros da sua governação estavam os impactos negativos da política de educação, particularmente no ensino superior.
E que viesse designadamente alterar a posição, em especial do grupo parlamentar do PS, relativamente às iniciativas legislativas do PCP sobre, entre outras matérias, o alargamento do apoio social, transportes e alimentação, alojamento e isenção de propinas no ensino superior.
Ora a verdade é que não foi nada disto que o primeiro-ministro veio dizer neste último debate quinzenal da legislatura, bem pelo contrário, como salientou Jerónimo de Sousa, o que «veio dizer aos estudantes é que continuarão a pagar propinas, poderão continuar a endividar-se e a hipotecar o seu futuro para pagarem aquilo que devia ser gratuito».
Bolsas em atraso
Daí que, avaliando as medidas anunciadas por José Sócrates, nomeadamente quanto às bolsas, o dirigente do PCP as tenha classificado como «um passinho».
E refreou o entusiasmo do anúncio de Sócrates, a exalar eleitoralismo, ao lembrar que centenas de estudantes estão a receber as suas bolsas com meses e meses sucessivos de atraso. «Não é uma boa altura para considerar a correcção desta situação, que leva ao desespero tantos estudantes?», perguntou Jerónimo de Sousa.
«Lamento desiludi-lo, mas não há bolsas em atraso», respondeu o primeiro-ministro. Perante as reacções em contrário expressas em apartes oriundos da bancada do PCP, acabou por admitir que afinal essa situação poderá mesmo estar a ocorrer ao afirmar que «se houver bolsas em atraso» o seu Governo terá «o maior gosto em pagá-las imediatamente», porque, esclareceu, esse é o seu «dever» e a sua «função».
Ora a verdade é que são vários os casos de atraso no pagamento das bolsas de estudo a estudantes do ensino superior público que têm chegado ao conhecimento do Grupo Parlamentar do PCP e que motivaram já, inclusive, várias diligências, por escrito e verbalmente, junto do Governo, a última das quais sob a forma de pergunta formalizada em 18 de Junho pelo deputado Miguel Tiago.
Nela é recordado, nomeadamente, que à formação comunista chegou a informação de atrasos no pagamento de prestações em diversas academias, concretamente na Universidade de Aveiro (onde, inclusivamente, houve um abaixo-assinado subscrito por mais de 700 estudantes) e na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (onde só em Fevereiro, Março e até Maio é que foram pagas as prestações correspondentes a todo o ano lectivo desde o seu início).
O dirigente comunista questionou igualmente o primeiro-ministro sobre se «vai ou não alterar a política de angariação de clientes para a banca entre os estudantes do Superior», lembrando que esta «persistência leva a que os estudantes continuem a endividar-se».
Aludindo às palavras antes proferidas por Sócrates quando este diz que as medidas por si anunciadas se destinariam a combater a discriminação, Jerónimo de Sousa perguntou: «V. Exa acredita mesmo naquilo que está a dizer? Acredita que há quem possa pagar cinco mil euros de propinas nos segundos ciclos? Está a dizer isso a sério?». E concluiu, numa crítica cerrada: «É inaceitável que o possa dizer, porque sabe que há muitas famílias portuguesas que não suportam o pagamento de propinas que o Governo impõe e que continuam a martirizar e a excluir muitos estudantes do ensino superior».