Internatos católicos na Irlanda

Sevícias a órfãos

Um relatório de 2600 páginas, divulgado dia 20, caiu como uma bomba na Irlanda. Os seus autores acusam 216 instituições católicas de terem espancado e violado crianças sistematicamente ao longo dos últimos 60 anos.

A Igreja pediu desculpas pelos abusos dos religiosos

Entre 1930 e 1990, «um clima de medo, devido a sanções constantes, excessivas e arbitrárias, propagou-se à maioria das instituições, designadamente a todas as instituições de rapazes», afirma o documento elaborado por uma comissão especial.
Segundo declarou John Kelly, coordenador de uma associação de apoio às vítimas, ele próprio sujeito a sevícias, os internatos «não eram casas de acolhimento», mas «locais de concentração de crianças órfãs e delinquentes que os religiosos alugavam a agricultores como escravos».
A comissão de inquérito, criada pelo governo irlandês em 2000, acusa o Ministério da Educação de ter sido complacente com as ordens religiosas, mostrando-se incapaz de pôr termo às violências infligidas às mais de 35 mil crianças que frequentaram aqueles estabelecimentos.
Ao longo de quase uma década, os membros da comissão interrogaram mais de mil indivíduos, homens e mulheres, que estiveram internados numa das 216 instituições investigadas, onde se incluem orfanatos, hospitais e escolas, geridos por 18 ordens e congregações católicas.
Face às graves denúncias, a Igreja não negou os factos, antes pediu desculpas pelo comportamento dos seus padres e monges. Afirmando sentir-se «envergonhado», o cardeal Sean Brady considerou que a publicação do relatório «lança uma luz sobre obscuro período do passado. É bem-vindo e constitui um importante passo para alcançar a verdade, fazer justiça à vítimas e assegurar que estes não se repetirão», declarou o prelado.

Mil milhões em indemizações

Na segunda-feira, 25, o arcebispo de Dublin, Diarmuid Martin, apelou a que as congregações religiosas da ilha para façam um gesto suplementar para permitir indemnizar as vítimas dos abusos.
Já em 2002, a Igreja tinha aceitado pagar 127 milhões de euros para compensar as vítimas de maus-tratos, tendo já sido ressarcidas cerca de 12.500 pessoas. Todavia, o montante das indemnizações é agora calculado em 1,3 mil milhões de euros, facto que levou o ministro das Finanças a pedir uma novo esforço à Igreja.
O arcebispo de Dublin, mostrando-se aberto à solicitação do governo, alertou que dentro de um ano será divulgado um outro relatório sobre os abusos sexuais perpetrados no seio da sua diocese por eclesiásticos, o que irá agravar a debilitada imagem da Igreja na Irlanda.


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