Corrupções

Henrique Custódio
O editorial do Diário de Notícias do passado domingo, divagando sobre corrupção nacional, determinava logo à cabeça que «todos os partidos com responsabilidades governativas - seja ao nível central, ao nível regional ou das autarquias locais - , não têm razões para se considerar imaculados». Posto isto espraiava-se pelos «inúmeros casos de nomeações ou adjudicações com carácter duvidoso» ocorridos «em período de gestão» governamental, exemplificando com «o tristemente célebre Freeport» (governo Guterres), «a adjudicação do SIRESP», as decisões «acerca do Casino de Lisboa» ou o abate de sobreiros em Benavente do «caso Portucale» (Governo Santana Lopes/Paulo Portas).
É notório que o editorialista, querendo centrar-se nas irregularidades e corrupções ocorridas nos curtos períodos de gestão nas mudanças de Governo, fez igualmente questão de envolver todos os partidos nas suas suspeições, ao pormenorizar que as tais «responsabilidades governativas» envolviam os níveis central, regional e autárquico, ou seja a totalidade dos escalões do poder público em Portugal, onde todos participam aqui ou ali. E onde, segundo o articulista, ninguém tem razões para se «considerar imaculado».
Quem não tem «razões» - nem razão - é, notoriamente, o articulista, pois há um partido português a quem, em 34 anos de democracia, ninguém conseguiu apontar um único acto de corrupção ou aproveitamento ilícito no exercício do poder: é o Partido Comunista Português.
Isto, qualquer jornalista o sabe, e de ciência certa, pois se há «furo» jornalístico apetecível e procurado nesta via de assolamento capitalista... seria a descoberta de uma tranquibérnia praticada por comunistas. Concedemos que o editorialista do DN não há-de ser excepção, no conhecimento deste facto corriqueiro.
Um facto, aliás, concreto e mensurável, pois há mais de 30 anos que os comunistas governam dezenas de concelhos, com vários dos mais populosos do País, gerindo obras e interesses públicos de muitos milhões de euros e nem uma única vez
uma gestão comunista foi envolvida ou, sequer, suspeita de alguma ilicitude ou os seus eleitos arrastados nas escandaleiras que pululam nos outros partidos.
Por outro lado, os detentores das maiores fatias do poder autárquico, o PS e o PSD, são os grandes utentes dos casos nebulosos ou abertamente ilegais, como espelham os exemplos paradigmáticos - porque levados a tribunal - ocorridos com Júlio Santos (PS) em Celorico da Beira, Abílio Curto (PS) na Guarda, Fátima Felgueiras (PS) em Felgueiras, Valentim Loureiro (PSD) em Gondomar ou Isaltino Morais (PSD) em Oeiras. E nem um minúsculo partido autárquico como o CDS/PP escapou ao escândalo de Ferreira Torres, em Marco de Canaveses.
A corrupção parece generalizar-se quando subimos ao poder central, tamanhos são o bolo e a discricionariedade de quem o reparte. Daí a facilidade das teorias tipo «é tudo corrupto».
É claro que se esquece deliberadamente que são o PS e o PSD (com ou sem muleta do CDS) que há 32 anos consecutivos governam hegemonicamente o País, cabendo aos três, e em exclusivo, as responsabilidades e os epítetos na corrupção governativa. Tal como nunca se lembra que o PCP é, comprovadamente, o partido que tem as mãos limpas.
Não é que estes editorialistas encartados não saibam isto tudo. Sabem-no e de ginjeira. Quem lhes paga é que não quer o País a tomar consciência da coisa...


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