Guantánamo – (não) decisões e «fuga para a frente»

Carlos Gonçalves
Janeiro fica marcado por decisões da nova administração USA de Obama que carecem de registo e opinião. É incontornável que algumas são significativas - encerramento do campo de concentração e tortura de Guantanamo no prazo de um ano (devia ser já!), encerramento das prisões secretas da CIA no estrangeiro (num prazo difuso), proibição da tortura de detidos e adiamento por 120 dias dos processos das comissões militares contra os 240 presos de Guantanamo, o que implica(?) a impossibilidade de «julgamentos» secretos.
Mas é facto que são decisões inevitáveis - dado os acórdãos do Supremo Tribunal dos States - e inadiáveis do ponto de vista dos interesses do imperialismo, com vista à recuperação de alguma margem de credibilidade e iniciativa no plano político.
E é facto que dão cobertura a outras tantas «não decisões», que se constituem em elementos relevantes da continuidade da política externa dos USA.
Nada foi decidido quanto ao apuramento dos crimes da administração Bush-Cheney, sobre a continuidade das operações secretas da CIA e outras «agências», incluindo o «direito de assassínio» de presumíveis «terroristas», ou sobre operações militares noutros países, que estão a intensificar-se no Afeganistão e no Paquistão.
Entretanto, consumando uma orientação de Bush e agora de Obama, o MNE do Governo PS/Sócrates assumiu-se como campeão da transferência para a Europa de 60 presos de Guantanamo, já dados como inocentes - aliás serão acusados apenas uns 10% dos 780 sequestrados que por lá passaram(!).
Sem excluir que alguns desses presos venham a solicitar o estatuto de refugiado - o que teria de ser aferido - é evidente que a «proposta» visa descartar as responsabilidades dos USA.
Por isso, são muitas as perplexidades que esta manobra suscita em «aliados», que recusam envolver-se ainda mais neste imbróglio de crimes contra a humanidade. Mas regista-se o apoio de certos Estados mais embrulhados no tráfico criminoso de presos para Guantanamo – como é o caso de Portugal.
Ou seja, nesta matéria, e não só, a política do Governo PS/Sócrates é de «fuga para a frente», tentar que a sua cumplicidade nos crimes do imperialismo seja minorada pelo tempo e os acontecimentos. Mas desenganem-se, as provas são já irrefutáveis e serão arrasadoras.


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