20 de Janeiro

Filipe Diniz
Como era de prever, a tomada de posse de Obama deu lugar a nova dose maciça de promoção da «nova imagem», portadora de «mudança» nos EUA.
Quanto à «mudança», ao slogan de campanha têm-se sucedido elucidativas opções políticas concretas, nomeadamente uma equipa de governo que é um catálogo de muito do que de pior integrou as mais recentes administrações, e um colossal e cúmplice silêncio face à agressão genocida lançada pelo sionismo sobre a Faixa de Gaza.
Quanto à «imagem», duas linhas fundamentais: a cor da pele (por acaso, a mesma cor da de Condoleeza Rice ou de Colin Powel), e a tentativa de colagem histórica a figuras cujo prestígio foi conquistado combatendo muito daquilo que as forças sociais e económicas que fizeram eleger Obama efectivamente representam.
O DN dá o seu contributo, descobrindo que o dia da tomada de posse de Obama é o mesmo dia 20 de Janeiro em que, em 1973, o colonialismo português assassinou Amílcar Cabral. Acrescenta o DN, entusiasmado: […] «os Estados Unidos eram, para Amílcar, uma espécie de estrela-guia do avanço africano para o futuro» […].
Leiamos algo do que disse Amílcar Cabral acerca dessa «estrela-guia»: «Pusemos claro o problema, tanto aos americanos como aos alemães, ingleses, aos franceses, dissemos-lhes que não é contra eles que estamos a lutar, é contra o colonialismo português. E se mais não conseguimos deles ou se nada conseguimos deles, a culpa não é do nosso Partido, não, a culpa é deles mesmo, porque têm os seus compromissos com os colonialistas portugueses, porque têm os seus interesses imperialistas, que são maiores do que os interesses humanos que podiam ter pela nossa luta» (1).
A luta de Amílcar Cabral foi contra o sistema ao serviço do qual Obama fez toda a sua carreira: «Queremos, portanto, destruir tudo quanto seja um obstáculo ao progresso do nosso povo, […] contra a liberdade do nosso povo. […] Não vamos libertar o nosso povo apenas dos colonialistas, […] mas de tudo o que o prejudica no caminho do progresso. Temos que destruir a ignorância, a falta de saúde, e toda a espécie de medo(2)

(1) - A. Cabral, Análise de alguns tipos de resistência, Ed. Seara Nova, 1974, p. 29
(2) - Id, p.12


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