Governo à direita - lérias à «esquerda»

Carlos Gonçalves
J. Sócrates apresentou a sua «moção global» ao XVI Congresso do PS que decorrerá no final de Fevereiro. Como era inevitável e foi orquestrado pela omnipresente mas dissimulada central de informações e comunicação do Governo, a moção foi valorizada nos media dominantes, pelos escribas ao serviço do poder económico, ou que cobrem os flancos do PS/Sócrates, como uma «viragem à esquerda».
Assim o impõe a agenda do PS e dos seus especialistas de manipulação para procurar minorar o desgaste político (e eleitoral) na sua base de apoio, para prosseguir na utilização desenfreada da crise económica e social, em que - ao contrário do que diz o Primeiro Ministro - lhe assistem elevadíssimas responsabilidades, para se vitimizar, para fabricar a interiorização massiva do medo da crise, como instrumento para a resignação dos trabalhadores, para permitir a fuga às responsabilidades e o aprofundamento das suas políticas estruturantes de concentração de capitais e riqueza, para - se possível for - modificar em seu proveito o calendário eleitoral e mistificar as eleições.
Desde há muitos anos que o PS se faz de esquerda nas moções dos futuros líderes - Sócrates no XIV e XV Congressos era por «modernizar Portugal» e pela «esquerda moderna», agora no XVI é pelo «PS, força da mudança» - e assim tem sido nas «novas fronteiras» e nas eleições. São momentos instrumentais, para o ilusionismo eleitoralista, para enganar incautos e descansar consciências, uma espécie de intróito, que todos sabem destinado a novos avanços na política de direita, até se chegar a este Governo e à política mais à direita depois de Abril.
Uma «viragem à esquerda» não se faz de mais promessas falsas, como a de «reduzir desigualdades sociais» do Governo que é responsável pelo seu agravamento brutal e pela salvação dos banqueiros, como a de combater o neoliberalismo o Governo campeão da dogmática do défice, das privatizações e da reconfiguração do Estado.
Uma política de esquerda não se faz de 3 medidas avulsas aceitáveis, mas esvaziadas de substância e fora de contexto, ou de paleio contra os offshores, cuja concretização fica a depender das grandes potências.
Em Portugal-2009, uma «viragem à esquerda» é possível. Faz-se da luta de massas, do reforço do PCP, da ruptura democrática e da construção da alternativa – contra esta política e o Governo PS/Sócrates.


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