Palestina

Actualidade de Brecht

Albano Nunes

As ideias de uma «solução final» que circulam são simplesmente tenebrosas

O governo terrorista de Ariel Sharon anunciou a sua «decisão» de assassinar ou expulsar Yasser Arafat dos territórios ocupados.
A resposta do martirizado povo palestiniano não se fez esperar. Grandes manifestações de massas e concentrações em frente de Muqata onde Arafat prometeu resistir até à morte se necessário. E por todo o mundo se ergueu um clamor de indignação perante a brutal ameaça dos sionistas de Israel.

É absolutamente necessário sublinhar aqui a extraordinária gravidade do que está em jogo e a necessidade de intensificar a luta para deter a mão criminosa de Sharon e seus comparsas.
Em primeiro lugar, pela «decisão» em si mesma. É o assassinato e o massacre que cinicamente se anuncia, na pessoa do Presidente de uma organização (a OLP) e de uma Autoridade democraticamente eleita (a Autoridade Nacional Palestiniana) internacionalmente reconhecidas como representativas do povo palestiniano. Por maior que seja o espezinhamento dos mais elementares direitos humanos a que a política de terrorismo de Estado israelita habituou o mundo, não é possível deixar de sublinhar a brutalidade fascista do anúncio feito.
Em segundo lugar, estamos perante um novo passo na campanha imperialista-sionista para submeter a causa palestiniana e colonizar os territórios árabes ocupados, na linha dos velhos projectos racistas do «grande Israel». As ideias de uma «solução final» que circulam são simplesmente tenebrosas.
Em terceiro lugar, importa não esquecer a ligação da ofensiva israelita com a ofensiva dos EUA em todo o Médio Oriente e Ásia Central, e a guerra contra o Iraque. O controlo dos recursos energéticos da região passa pelo redesenhar do mapa político do Médio Oriente e o caminho apontado às forças progressistas e de libertação nacional é submeter-se. Perante a insubmissão do povo palestiniano e a incapacidade de vergar a OLP e suas principais componentes, é a guerra total que se perfila no horizonte.

Neste quadro as primeiras reacções à «decisão» israelita de «eliminar» Arafat são profundamente inquietantes pelo que representam de transigência e incentivo à política terrorista de Sharon. Tal é o caso da Presidência da União Europeia que no seu comunicado de 12.09.03, enquanto «pede» a Israel que se «abstenha» do uso da força, coloca à Autoridade Palestiniana um conjunto de exigências que representam uma clamorosa ingerência nos assuntos internos palestinianos.

O apelo que Yasser Arafat, através da Festa do Avante!, dirigiu ao mundo, é digno da maior atenção. A pretexto do combate ao terrorismo, o povo palestiniano está a ser diariamente humilhado, oprimido, massacrado, na sua própria pátria. A situação é um inferno que gera determinação combativa perante o opressor, os seus muros, as suas retaliações criminosas com bombardeamentos e destruições vingativas à melhor maneira nazi. Mas gera também desespero e alimenta organizações que, como o Hamas, sempre estiveram à margem da causa de libertação liderada pela OLP, que foram animadas e apoiadas pelos serviços secretos «ocidentais» para dividir a resistência e disputar a influência da OLP.

OLP que é a principal e mais decisiva conquista do povo palestiniano, conquista que há que defender denunciando e combatendo as ameaças agora dirigidas contra o seu Presidente. É cada vez mais evidente que as práticas brutais do governo de Sharon constituem uma espécie de ensaio para projectos de ainda maior envergadura contra direitos e liberdades fundamentais, como o exige a nova ordem totalitária que o imperialismo procura impor ao mundo. Urge avisar toda a gente. Nunca Brecht foi tão actual - «primeiro levaram os comunistas agora levaram-me a mim e quando percebi já era tarde».


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