Um achado
Em entrevista à SIC, esta segunda-feira, o primeiro-ministro Sócrates fez importantes revelações ao País. Por exemplo, disse achar que «tudo aponta para um cenário cada vez mais provável de entrarmos em recessão», o que é um verdadeiro achado. Mais acha Sócrates que «não escaparemos a isso», o que sendo redundante não deixa de ser uma interessante descoberta, tão brilhante quanto essa outra de achar que «devemos rever as nossas previsões quer para o desemprego quer para o crescimento económico», por seu turno só equiparável à afirmação de que em Setembro, quando o Governo apresentou o Orçamento do Estado para 2009, «ninguém tinha consciência da dimensão da crise», cuja terá apanhado de surpresa «todos os governos».
Ficando a saber o que Sócrates «acha» largos meses – diria mesmo larguíssimos meses – depois de os portugueses terem achado a crise instalada nos orçamentos familiares, nas dívidas galopantes, na mobilidade especial, nas rescisões ditas amigáveis, nas fábricas encerradas ou nas cartas de despedimento, para já não falar nos recibos verdes, nos biscates nos call centers ou nos cursos de formação para entreter o desemprego, ficando a saber o que Sócrates «acha», dizia, quem teve a paciência de o ver e ouvir sem sofrer um ataque de nervos nem partir o televisor deve ter achado que há um complot mundial contra Portugal. Pois se estava tudo tão bem encaminhado – a economia a crescer, o povo a sorrir, o País a progredir, os passarinhos a bailar com o rabinho a dar a dar, piu, piu, piu, piu – que outro motivo pode haver para a desgraça anunciada de uma crise sem «paralelo como nenhuma outra», segundo Sócrates, a não ser uma manifesta má vontade contra Portugal, para nos estragar a festa?
O que nos vale, disse o homem de verbo fácil mas vistas curtas – não vislumbrou as malfeitorias dos «lá de fora», mas ninguém é perfeito – é que com as políticas dos últimos três anos (período consabidamente áureo nos séculos de história nacional) a economia portuguesa ganhou lastro para «responder melhor» agora às dificuldades, condição necessária e suficiente para «ajudar as pessoas», ainda que se torne inevitável rever as previsões deste ano para o desemprego (a aumentar) e para o crescimento económico (a diminuir). É o que se chama ter sorte, apesar do azar! Aqui chegado, Sócrates defendeu a necessidade de o Estado «fazer investimentos», proclamou que critério só há um «o bom e o mau» e mais nenhum, e asseverou o impensável, a saber, que a «economia portuguesa precisa cada vez mais de investimentos, porque o emprego de muita gente vai depender do investimento público». Para rematar (damos de barato os rapapés a Cavaco e Alegre, de resto muito bem recebidos, e de atabalhoadas explicações sobre as bóias de salvação lançadas à banca), Sócrates fez o que se esperava e anunciou a «obrigação moral» de se «recandidatar» a primeiro-ministro (apesar de não haver eleições para tal) e pediu «uma maioria absoluta» aos portugueses para o PS «prosseguir o seu projecto governativo».
Não se tratou de um pesadelo, acreditem. Foi mesmo só descaramento, arrogância e pesporrência. Um achado.
Ficando a saber o que Sócrates «acha» largos meses – diria mesmo larguíssimos meses – depois de os portugueses terem achado a crise instalada nos orçamentos familiares, nas dívidas galopantes, na mobilidade especial, nas rescisões ditas amigáveis, nas fábricas encerradas ou nas cartas de despedimento, para já não falar nos recibos verdes, nos biscates nos call centers ou nos cursos de formação para entreter o desemprego, ficando a saber o que Sócrates «acha», dizia, quem teve a paciência de o ver e ouvir sem sofrer um ataque de nervos nem partir o televisor deve ter achado que há um complot mundial contra Portugal. Pois se estava tudo tão bem encaminhado – a economia a crescer, o povo a sorrir, o País a progredir, os passarinhos a bailar com o rabinho a dar a dar, piu, piu, piu, piu – que outro motivo pode haver para a desgraça anunciada de uma crise sem «paralelo como nenhuma outra», segundo Sócrates, a não ser uma manifesta má vontade contra Portugal, para nos estragar a festa?
O que nos vale, disse o homem de verbo fácil mas vistas curtas – não vislumbrou as malfeitorias dos «lá de fora», mas ninguém é perfeito – é que com as políticas dos últimos três anos (período consabidamente áureo nos séculos de história nacional) a economia portuguesa ganhou lastro para «responder melhor» agora às dificuldades, condição necessária e suficiente para «ajudar as pessoas», ainda que se torne inevitável rever as previsões deste ano para o desemprego (a aumentar) e para o crescimento económico (a diminuir). É o que se chama ter sorte, apesar do azar! Aqui chegado, Sócrates defendeu a necessidade de o Estado «fazer investimentos», proclamou que critério só há um «o bom e o mau» e mais nenhum, e asseverou o impensável, a saber, que a «economia portuguesa precisa cada vez mais de investimentos, porque o emprego de muita gente vai depender do investimento público». Para rematar (damos de barato os rapapés a Cavaco e Alegre, de resto muito bem recebidos, e de atabalhoadas explicações sobre as bóias de salvação lançadas à banca), Sócrates fez o que se esperava e anunciou a «obrigação moral» de se «recandidatar» a primeiro-ministro (apesar de não haver eleições para tal) e pediu «uma maioria absoluta» aos portugueses para o PS «prosseguir o seu projecto governativo».
Não se tratou de um pesadelo, acreditem. Foi mesmo só descaramento, arrogância e pesporrência. Um achado.