Regateio de migalhas
«Suicídio por suicídio podemos suicidar-nos logo em Janeiro.» As palavras são do presidente da CIP, Francisco Van Zeller, que recorreu à veia do humor negro para exprimir as suas preocupações quanto às nefastas consequências – para o patronato, está bom de ver – da implementação do acordo assinado em 2006 no respeitante ao salário mínimo a aplicar em 2009, então fixado na choruda quantia de 450 (quatrocentos e cinquenta) euros.
Segundo o Diário Económico de anteontem, 28 de Outubro, Van Zeller espera que o Governo convoque «rapidamente» uma reunião para discutir as contrapartidas ao astronómico aumento de 24 euros no salário mínimo, pois apesar de garantir que o patronato vai «cumprir o acordo», advoga que tal não poderá ser feito «sem discussão, para que todos saibam o respectivo custo».
Para perceber melhor o que está em causa importa lembrar que em Dezembro de 2006, em sede de concertação social, foi acordado que o salário mínimo nacional teria a seguinte evolução: 403€ em 2007; 426€ em 2008; 450€ em 2009; e um valor intermédio em 2010 de forma a chegar aos 500€ em 2011.
Assinado o acordo e tecidas as loas da praxe, nem um ano tinha passado sobre as pomposas declarações de circunstância e já a CIP vinha a terreiro – como agora sucede, desta feita com o coro afinado com a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal e a Confederação dos Agricultores de Portugal e sob o chapéu de chuva da crise – clamar por medidas compensatórias. O Governo, sempre sensível às exigências patronais, nem esperou pelo apuramento das «consequências» e aprovou um conjunto de benesses às empresas, o que por junto e atacado, como hoje os próprios reconhecem, fez com que o «prejuízo» não tenha sido «assim tão grande», eufemística forma de dizer que o erário público pagou uma vez mais a factura.
A cena repete-se agora com pinceladas mais dramáticas, havendo já quem fale em «medidas que evitem a asfixia total das empresas» e na «inevitabilidade» do aumento do desemprego. Enquanto isso, os «especialistas» de serviço garantem que o aumento salarial «é um tremendo erro macroeconómico» e que os 80 (oitenta!) cêntimos por dia na actualização do salário mínimo e os 2,9 por cento propostos pelo Governo para a Função Pública (sector onde os trabalhadores «por acaso» perderam, nos últimos nove anos, mais de 7% do seu poder de compra) vão retirar competitividade à economia nacional.
Partilhando as dores do patronato está também a dirigente do PSD, Manuel Ferreira Leite. Convidada a almoçar na Associação Comercial de Lisboa (ACL), no início da semana, criticou o anúncio do aumento do salário mínimo «porque tudo o que seja dar sinais às pessoas de que o próximo ano será bom, roça a irresponsabilidade». Curioso, o conceito de «ano bom» de Ferreira Leite. A fartura dos 450€ da polémica, a preços correntes do restaurante da ACL, dá para uns escassos onze almoços e nem sobra que chegue para uma bica na rua.
Parafraseando o presidente da CIP, suicídio por suicídio mais valia que o fizessem já, sem dizer mais nada. Sempre nos poupavam ao espectáculo infame de os ver regatear as migalhas da actualização dos salários de miséria que pagam a quem trabalha.
Segundo o Diário Económico de anteontem, 28 de Outubro, Van Zeller espera que o Governo convoque «rapidamente» uma reunião para discutir as contrapartidas ao astronómico aumento de 24 euros no salário mínimo, pois apesar de garantir que o patronato vai «cumprir o acordo», advoga que tal não poderá ser feito «sem discussão, para que todos saibam o respectivo custo».
Para perceber melhor o que está em causa importa lembrar que em Dezembro de 2006, em sede de concertação social, foi acordado que o salário mínimo nacional teria a seguinte evolução: 403€ em 2007; 426€ em 2008; 450€ em 2009; e um valor intermédio em 2010 de forma a chegar aos 500€ em 2011.
Assinado o acordo e tecidas as loas da praxe, nem um ano tinha passado sobre as pomposas declarações de circunstância e já a CIP vinha a terreiro – como agora sucede, desta feita com o coro afinado com a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal e a Confederação dos Agricultores de Portugal e sob o chapéu de chuva da crise – clamar por medidas compensatórias. O Governo, sempre sensível às exigências patronais, nem esperou pelo apuramento das «consequências» e aprovou um conjunto de benesses às empresas, o que por junto e atacado, como hoje os próprios reconhecem, fez com que o «prejuízo» não tenha sido «assim tão grande», eufemística forma de dizer que o erário público pagou uma vez mais a factura.
A cena repete-se agora com pinceladas mais dramáticas, havendo já quem fale em «medidas que evitem a asfixia total das empresas» e na «inevitabilidade» do aumento do desemprego. Enquanto isso, os «especialistas» de serviço garantem que o aumento salarial «é um tremendo erro macroeconómico» e que os 80 (oitenta!) cêntimos por dia na actualização do salário mínimo e os 2,9 por cento propostos pelo Governo para a Função Pública (sector onde os trabalhadores «por acaso» perderam, nos últimos nove anos, mais de 7% do seu poder de compra) vão retirar competitividade à economia nacional.
Partilhando as dores do patronato está também a dirigente do PSD, Manuel Ferreira Leite. Convidada a almoçar na Associação Comercial de Lisboa (ACL), no início da semana, criticou o anúncio do aumento do salário mínimo «porque tudo o que seja dar sinais às pessoas de que o próximo ano será bom, roça a irresponsabilidade». Curioso, o conceito de «ano bom» de Ferreira Leite. A fartura dos 450€ da polémica, a preços correntes do restaurante da ACL, dá para uns escassos onze almoços e nem sobra que chegue para uma bica na rua.
Parafraseando o presidente da CIP, suicídio por suicídio mais valia que o fizessem já, sem dizer mais nada. Sempre nos poupavam ao espectáculo infame de os ver regatear as migalhas da actualização dos salários de miséria que pagam a quem trabalha.