Tempos de crise e de luta
A actual crise não deixará de marcar um patamar num declínio irreversível.
A chegada em força da crise do capitalismo multiplica os factores de instabilidade e incerteza no mundo. Com a procissão ainda no adro, a queda abrupta e continuada das bolsas, as falências «chocantes», os gigantescos planos de resgate do Estado capitalista - de uma dimensão nunca vista mas sem a garantia de sucesso - e o próprio afundamento de países até aqui apontados como exemplo de modernidade e bem-estar (como a Islândia) representam a estrondosa bancarrota do neoliberalismo.
A gravidade da crise impôs-se, passando a ser assumida, quando há uns meses apenas dirigentes de governo e fazedores de opinião primavam por ocultar a sua real dimensão, restringindo-a benevolamente ao subprime e sector financeiro: Bush refere a «longa e dolorosa recessão» e a «ameaça sufocante» para a economia norte-americana (EFE, 24.09.10), Brown reconhece o quadro de recessão e pega nas palavras do governador do Banco de Inglaterra para uma confissão assombrosa: «nunca, desde a I Guerra Mundial, o sistema bancário internacional esteve tão perto do colapso» (Reuters, 22.10.08). Já Alan Greenspan – que durante 19 anos esteve à frente da Reserva Federal, o Banco Central dos EUA, e foi um dos artífices do «milagre» das bolhas especulativas – surge, perante as câmaras, em tom compungido, afirmando-se «chocado» com a «crise de crédito» e a incapacidade de auto-regulação dos mercados e prometendo um forte aumento do desemprego nos EUA. Fazendo uso da máxima de Lampedusa, de tudo mudar para que tudo fique na mesma, a dramatização do discurso da crise serve também para, sacudindo a água do capote e ocultando a derrota ideológica do sistema, o grande Capital vir agora legitimar a exigência de maiores e incomensuráveis sacrifícios aos mesmos de sempre.
À emergência da crise sistémica do capitalismo acresce exponencialmente os factores de rivalidade intercapitalista e a pulsão do imperialismo para a escalada do uso da força.
Uma brevíssima volta ao mundo bastaria para o ilustrar: a Islândia acusa a Grã-Bretanha de «acto inamistoso» depois de Londres ter usado a legislação antiterrorista contra o parceiro da NATO (!) para bloquear bens islandeses, em resposta à evaporação das poupanças bancárias britânicas sorvidas pelo default islandês. Noutra dimensão prossegue a «saga anti-terrorista» no Afeganistão, onde na última semana as forças dos EUA e NATO dobraram as 1000 baixas mortais mas prometem mais tropas para 2009, perdendo-se já a conta das vítimas civis entre a população. A desestabilização alastra ao Paquistão - as matanças perpetradas pelas forças dos EUA e as brutais violações da sua soberania e integridade territorial tornaram-se rotina. Em véspera de eleições, os EUA sobem a fasquia da desestabilização regional, consumando um criminoso acto terrorista de agressão contra a Síria, a partir do Iraque ocupado. Prossegue a ofensiva contra a Rússia – e mais além – a China. No pico da crise, a conferência de doadores destina milhões ao regime títere de Saakashvili da Geórgia e o FMI «ressurge» das cinzas para conceder 13 mil milhões de dólares ao desacreditado poder laranja na Ucrânia, cuja economia enfrenta o espectro de um colapso. Um panorama geral para cada vez um maior número de países.
As medidas de resgate do capitalismo não deixam de remeter para uma maior centralização e concentração do capital. Momentaneamente o dólar reforça-se. O seu domínio como moeda global é ainda uma realidade de última instância na arquitectura imperialista global. A par do domínio militar. A actual crise, porém, não deixará de marcar um patamar num declínio que se afigura a prazo irreversível.
Anunciam-se, para já, tempos duros de luta. A capacidade de resistir e vencer da luta dos povos, das massas populares e dos trabalhadores será determinante para a perspectiva de um mundo mais justo que hoje se abre.
A gravidade da crise impôs-se, passando a ser assumida, quando há uns meses apenas dirigentes de governo e fazedores de opinião primavam por ocultar a sua real dimensão, restringindo-a benevolamente ao subprime e sector financeiro: Bush refere a «longa e dolorosa recessão» e a «ameaça sufocante» para a economia norte-americana (EFE, 24.09.10), Brown reconhece o quadro de recessão e pega nas palavras do governador do Banco de Inglaterra para uma confissão assombrosa: «nunca, desde a I Guerra Mundial, o sistema bancário internacional esteve tão perto do colapso» (Reuters, 22.10.08). Já Alan Greenspan – que durante 19 anos esteve à frente da Reserva Federal, o Banco Central dos EUA, e foi um dos artífices do «milagre» das bolhas especulativas – surge, perante as câmaras, em tom compungido, afirmando-se «chocado» com a «crise de crédito» e a incapacidade de auto-regulação dos mercados e prometendo um forte aumento do desemprego nos EUA. Fazendo uso da máxima de Lampedusa, de tudo mudar para que tudo fique na mesma, a dramatização do discurso da crise serve também para, sacudindo a água do capote e ocultando a derrota ideológica do sistema, o grande Capital vir agora legitimar a exigência de maiores e incomensuráveis sacrifícios aos mesmos de sempre.
À emergência da crise sistémica do capitalismo acresce exponencialmente os factores de rivalidade intercapitalista e a pulsão do imperialismo para a escalada do uso da força.
Uma brevíssima volta ao mundo bastaria para o ilustrar: a Islândia acusa a Grã-Bretanha de «acto inamistoso» depois de Londres ter usado a legislação antiterrorista contra o parceiro da NATO (!) para bloquear bens islandeses, em resposta à evaporação das poupanças bancárias britânicas sorvidas pelo default islandês. Noutra dimensão prossegue a «saga anti-terrorista» no Afeganistão, onde na última semana as forças dos EUA e NATO dobraram as 1000 baixas mortais mas prometem mais tropas para 2009, perdendo-se já a conta das vítimas civis entre a população. A desestabilização alastra ao Paquistão - as matanças perpetradas pelas forças dos EUA e as brutais violações da sua soberania e integridade territorial tornaram-se rotina. Em véspera de eleições, os EUA sobem a fasquia da desestabilização regional, consumando um criminoso acto terrorista de agressão contra a Síria, a partir do Iraque ocupado. Prossegue a ofensiva contra a Rússia – e mais além – a China. No pico da crise, a conferência de doadores destina milhões ao regime títere de Saakashvili da Geórgia e o FMI «ressurge» das cinzas para conceder 13 mil milhões de dólares ao desacreditado poder laranja na Ucrânia, cuja economia enfrenta o espectro de um colapso. Um panorama geral para cada vez um maior número de países.
As medidas de resgate do capitalismo não deixam de remeter para uma maior centralização e concentração do capital. Momentaneamente o dólar reforça-se. O seu domínio como moeda global é ainda uma realidade de última instância na arquitectura imperialista global. A par do domínio militar. A actual crise, porém, não deixará de marcar um patamar num declínio que se afigura a prazo irreversível.
Anunciam-se, para já, tempos duros de luta. A capacidade de resistir e vencer da luta dos povos, das massas populares e dos trabalhadores será determinante para a perspectiva de um mundo mais justo que hoje se abre.