Lobo com pele de cordeiro

Margarida Botelho
«O que aconteceu não foi uma crise como as outras. Foi o resultado escandaloso de lógicas de gestão orientadas para o imediato, uma regulação totalmente permissiva, práticas abusivas e uma ganância com proporções históricas. Nesta crise financeira, há uma ideologia derrotada. E quem sai derrotado são os apóstolos do Estado mínimo e do mercado desregulado (…), os que enalteceram as virtudes imbatíveis de um mercado entregue a si próprio (…), aqueles que sempre professaram a sua fé na mão invisível do mercado, para agora, à falta de outra, reclamarem a mão bem visível do Estado!»
Quase apetece deixar o artigo por aqui, lançando um concurso de adivinha-quem-é-o-autor, com solução na semana que vem e prémio aos leitores mais atentos. Mas não se pode: é que o autor deste discurso, inflamado no palanque da Assembleia da República no passado dia 8, obriga a que levemos a sério o sábio aviso da sabedoria popular: cuidado com os lobos que vestem a pele de cordeiros, para melhor dizimarem o rebanho…
O autor de tão moralista tirada é, nem mais nem menos, José Sócrates. Não deixa de ser digna de registo a desfaçatez com que Sócrates a faz: o primeiro-ministro do Governo do PS que protege, apoia e garante os lucros dos grandes grupos económicos, que encerra escolas e serviços de saúde deixando o negócio livre aos privados, que propõe um Código do Trabalho ainda pior do que o do PSD, que jogou parte do fundo de garantia da Segurança Social na Bolsa americana, que cerceia a liberdade de quem resiste. Só a falta de espaço nos impede de continuar a dar exemplos. Caso para dizer: é preciso ter mesmo muita lata!
O que no fundo Sócrates e o PS querem é fazer crer que a política seguida nos Estados Unidos é radicalmente diferente da praticada na União Europeia sob o chapéu do «modelo social europeu», ou da política seguida em Portugal nos últimos 30 anos. O que Sócrates e o PS querem é impedir que se torne cada vez mais claro para cada vez mais pessoas que é necessária uma ruptura com esta política. E que o capitalismo não resolve nenhum dos problemas da Humanidade. Pelo contrário: agrava-os a todos.


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