«Bolha» rebenta na Europa

Crise imparável

A derrocada do sistema financeiro capitalista mundial chegou em força à Europa. Às nacionalizações de prejuízos assumidas pelos governos, seguem-se a recessão e as fusões.

Cada um por si, con­cluíram Merkel, Sar­kozy, Brown e Ber­lus­coni

As consequências da crise financeira afundaram, segunda-feira, as bolsas da União Europeia. Em Portugal, o PSI20, cedeu quase dez por cento, um máximo desde a sua criação, em 1993, agudizando a desvalorização do corrente ano, cifrada em mais de 46,5 por cento.
Mas a perda do índice geral ultrapassou mesmo em 0,1 por cento a barreira dos dois dígitos (10,1 por cento), acompanhando a tendência generalizada nas praças financeiras mundiais, as quais viveram um dia de pânico, particularmente acentuado no Brasil e na Rússia, onde as transacções foram encerradas para evitar maiores danos.
Paralelamente, na ressaca da aprovação pelo Congresso norte-americano do «Plano Paulson» – diploma ironicamente baptizado com o nome do actual secretário do Tesouro e ex-executivo do Goldman Sachs, banco de investimento obrigado a transformar-se em banco comercial para minimizar a crise -, os principais líderes europeus reuniram de emergência para coordenar um plano de auxílio ao grande capital financeiro especulativo do Velho Continente.
Primeiro, Angela Merkel, Alemanha, Nicolas Sarkozy, França, Silvio Berlusconi, Itália e Gordon Brown, Grã-Bretanha, encontraram-se mas não chegaram a acordo. Cada um por si, foi a conclusão.
Posteriormente encontraram-se os membros da «zona euro» e só depois, «democraticamente», reuniram os ministros das Finanças e Economia dos 27 Estados Membros da UE, os quais acordaram aumentar em 150 por cento o valor segurado dos depósitos bancários em toda a Europa, passando de 20 para os agora 50 mil euros.

Saco roto

Mas a aparente ausência de concertação para enfrentar a crise financeira na UE não quer dizer que os milhões não continuem a sair dos bolsos dos contribuintes cobrindo os prejuízos na banca, até porque, sobre esta matéria, quer o BCE – que anunciou outra injecção de capital no valor de 250 mil milhões de euros – quer o FMI são contundentes, ordenando às comissões executivas da burguesia em cada país para que actuem o quanto antes.
Na Alemanha, o governo decidiu com o capital financeiro nacional, domingo à noite, salvar o Hypo Real Es­tate com 50 mil milhões de euros.
No mesmo tom, o primeiro-ministro espanhol, José Luiz Zapatero, reuniu com as entidades financeiras e anunciou a garantia dos depósitos e uma significativa injecção de capital, embora tal não deva acontecer antes da reunião prevista para amanhã com o presidente em exercício da UE, Sar­kozy.
Na Irlanda, o executivo de Dublin aprovou uma lei que garante os depósitos dos seis maiores bancos do país, no valor de 400 mil milhões de euros, e em Londres, o governo britânico fez saber que «vai tomar qualquer medida que seja necessária», incluindo, obviamente, intervir com mais 60 mil milhões de euros no para debelar as dificuldades de bancos como o Barc­klays e o Royal Bank of Sco­tland.
Mais a Norte, na Islândia, a situação é assumidamente de bancarrota. Depois da nacionalização do prejuízo ocorrido a semana passada com um dos maiores bancos do país, Reikjavik assumiu o controlo do Lands­banki, o segundo do país. A falência do sistema é de tal ordem que o governo islandês vai à Rússia negociar um empréstimo de 4 mil milhões de Euros.
Em Moscovo a crise também esmorece os sorrisos. Medvedev decidiu emprestar 36 mil milhões de dólares aos principais bancos do país, montante cinco vezes superior ao injectado nos últimos dias pelo Banco Central Japonês.

Re­cessão sobre rodas

Entretanto, sucedem-se os sinais da recessão, especialmente notória no sector automóvel, dependente do crédito. Por cá, a Au­to­eu­ropa pára 5 dias, mas a Volkswagen segue a congénere Ford e prevê despedimentos na Bélgica.
Em Inglaterra, as construtoras automóveis estão a reduzir a produção, confinada a três ou quatro dias de trabalho, e a Volvo decidiu cortar um quinto da sua força laboral na Europa, isto depois de já ter despedido dois mil trabalhadores.
Quanto à Ge­neral Mo­tors, que anunciou mais um encerramento nos EUA, revelou que a sua filial europeia, a Opel, suspende a actividade em duas fábricas na Alemanha e impõem cortes de salários.
Das linhas de montagem europeias, incluindo da unidade de Saragoça - que importa recordar «absorveu» a produção da Opel na Azambuja -, sairão no total menos 40 mil carros, isto, claro, para que os veículos em stock não percam valor comercial.

Mai­ores «papam» os grandes

Naturalmente, a crise do sistema financeiro representa no quadro do sistema irracional e predador capitalista uma oportunidade para maior concentração do capital.
Exemplos disso são a compra do banco Fortis pelo francês BNP Pa­ribas, passando este a ser o maior banco de depósitos europeu.
No outro lado do Atlântico, o Ci­ti­group accionou junto da Justiça o seu direito de preferência na aquisição do falido Wa­chovia isto depois do concorrente Wells Fargo se ter intrometido no negócio.


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