Guantánamo

Proibir os voos em território nacional

Carlos Gonçalves (Membro da Comissão Política)
O PCP propôs na Assembleia da República, em meados de Julho, a interdição do espaço aéreo nacional a voos com destino ou origem em Guantánamo. Face ao terrorismo de Estado do imperialismo USA, essa é, do ponto de vista da soberania e dignidade nacional, a resposta necessária.

Mais cedo que tarde vão ser conhecidos novos dados

É evidente que o imperialismo enfrenta cada vez mais dificuldades nesta questão e é claro que vai escasseando o terreno da fuga às responsabilidades pelo que aconteceu e acontece nesta matéria, com os anteriores e o actual Governo e com as decisões partilhadas de PS, PSD e CDS.
Mais cedo que tarde vão ser conhecidos novos dados de crimes e responsabilidades directas e indirectas dos USA e «aliados», da conexão, do «faz de conta» e da cumplicidade dos governos e autoridades nacionais.
Mas, face à reiterada recusa deste Governo de esclarecer a verdade e tomar medidas eficazes para evitar que a situação se perpetue, a afirmação da soberania nacional e a proibição de que o território (incluindo a base das Lages) e o espaço aéreo nacionais sejam utilizados em voos de/e para Guantánamo e a implementação de medidas que de facto os impeçam é a única forma de colocar o país do lado da legalidade internacional e dos valores do progresso e da paz.

As promessas de Obama

Da convenção do «partido Democrata» dos USA em Denver, Colorado, chegou, por intermédio da eurodeputada PS Ana Gomes, a notícia de que, se for eleito Presidente, Barack Obama “vai pôr a nu as prisões secretas e torturas relacionadas com Guantánamo”.
É claro que, se a eleição é apenas uma hipótese, então o esclarecimento de toda a verdade sobre esta matéria - dos sequestros, prisões secretas e ilegais, torturas, assassínios e operações criminosas do terrorismo de Estado do imperialismo USA e seus «aliados» – é uma absoluta impossibilidade, seja qual for o quadro que venha a resultar das eleições presidenciais.
Compreende-se, por opção de classe e de estilo, o destempero basbaque da deputada Ana Gomes – eis alguns adjectivos da sua crónica de Denver de 30.08.08 no Público: «dava-me ... para sorrir, cabeça e coração fervilhantes de admiração, contentamento e esperança», «...discurso lincolniano ... em que Obama ... magistralmente ... assumindo compromissos ... sobre a diplomacia reforçada e a construção de parcerias internacionais para combater as ameaças à segurança americana e global ... sobre o mundo livre de armas nucleares por que trabalhará»... «substância, convicções reflexão, visão estratégica, disciplina e muito trabalho» ... «é um líder progressista de tipo novo», etc.. E entende-se que Ana Gomes, neste quadro, se assuma em arauto das promessas eleiçoeiras de Obama na questão dos voos da CIA e dos prisioneiros de Guantánamo, aliás apenas formuladas indirectamente pelo «conselheiro» Richard Holbrook.
Mas esta é apenas uma das operações de marketing político do candidato e da sua equipe para reforçar apoios no complexo militar, petrolífero, mediático e financeiro, e alargar a base eleitoral, marcando o distanciamento necessário da «ineficácia» das políticas do clã Bush-Cheney no serviço do imperialismo, que conduziu os USA a situações de isolamento nesta matéria, ao atoleiro do Iraque e à eminência de novas derrotas.
Em Denver, Obama procurou demonstrar que as guerras de Bush foram «incompetentes», por contraposição ao sucesso anunciado das que ele próprio, se chegar a presidente, pretende travar, na senda da ofensiva imperialista de recolonização global e com recurso a novos meios e estratégias.
O imperialismo, cuja natureza não é reformável, nem está posto em causa por estas eleições para a Casa Branca, carece urgentemente dum branqueamento e relançamento de imagem. «É preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma». E é essa falsa «mudança» que está proposta pelo candidato «democrata», «afro-americano» (assim se diz nos USA).

Um imperativo de dignidade nacional

A eurodeputada do PS procura convencer Sócrates a antecipar-se e evitar ao seu Governo o ónus de parecer ainda mais incondicional no serviço do imperialismo que certos «decisores» USA e parceiros da social-democracia europeia. Salvar o PS, mudar algo para que tudo fique na mesma, para que possa continuar as mesmas políticas, também no terreno internacional.
Não resta qualquer «se» dubitativo à passagem de voos pelo espaço aéreo nacional, ao contrário do que ainda diz F. Louçã, nem Guantánamo é uma espécie de estado de alma mais ou menos diabólico, a carecer de «exorcismo», como escreve Ana Gomes.
Guantánamo é um símbolo da natureza belicista e fascizante do imperialismo.
Proibir os voos de e para Guantánamo no território nacional é uma resposta de soberania e um imperativo de dignidade nacional.


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