O perigoso novelo do Cáucaso

Luís Carapinha

No âmago deste processo encontra-se a irreprimível lógica exploradora e expansionista do imperialismo

Demorará tempo a assentar a poeira no Cáucaso, após o acto de agressão protagonizado pelo regime protofascista de Saakashvili, a 8 de Agosto, contra a Ossétia do Sul. A operação relâmpago para alterar o estatuto da autoproclamada república independente através do terror, destruição e a morte, algo impensável sem o apoio dos EUA, fracassou estrepitosamente – a provocação militar georgiana acabou por abalar irremediavelmente o anterior status quo. A Rússia respondeu com o reconhecimento da independência da Ossétia do Sul e da Abkházia, objectivo pelo qual Tsinkhvali e Sukhumi se bateram ao longo das últimas duas décadas.
O mesmo não se poderá dizer da perigosa estratégia de confrontação lançada pelo imperialismo norte-americano contra a Rússia (o plano B ou A?), que se eleva agora a um novo patamar. A ofensiva em que, não obstante as diferenças de tom e método, se alinham os EUA, NATO e UE coloca também à prova, na região do Cáucaso em particular, frágeis equilíbrios no seio da própria multinacional Federação Russa.

É assim evidente que os actuais desenvolvimentos do conflito no Cáucaso galgam as margens da questão «específica» da auto-determinação da Ossétia do Sul e Abkházia, para confluirem no mar da crescente tensão e choque entre os EUA/NATO/UE e a Rússia. No âmago deste processo encontra-se a irreprimível lógica exploradora e expansionista do imperialismo expressa no alargamento da NATO e tentativa de forçar a inclusão da Geórgia e Ucrânia, na criação de novas bases militares e instalação do escudo antimíssil dos EUA na Europa de Leste (visando aniquilar o equilíbrio nuclear estratégico existente) e nas desesperadas tentativas para assegurar direitos extra-territoriais sobre recursos e corredores energéticos.

Importará, ao mesmo tempo, aprofundar o conhecimento da complexa realidade histórica do Cáucaso e as raízes dos conflitos da Ossétia do Sul e Abkházia. E lembrar – algo que a perversa campanha mediática em curso olimpicamente ignora – os efeitos desastrosos do desmantelamento da URSS na sua génese e manifestação.
Foi sob o aplauso das «democracias ocidentais» que o exacerbado nacionalismo georgiano se converteu num dos agentes activos do enfraquecimento e desagregação soviéticas, rompendo os equilíbrios internos e reactivando velhas disputas étnicas. Eram os tempos da divisa «A Geórgia para os georgianos» do antigo presidente Gamssakhurdia, em que Saakashvili hoje se inspira, da abolição das autonomias e das fratricidas campanhas militares e de limpeza étnica. Em 1991, a Geórgia boicotou o referendo sobre a URSS em que 75% dos soviéticos disseram sim à sua manutenção. Mas na Abkházia este realizou-se e o sim venceu. O resto é conhecido. A 8 de Dezembro de 1991, era dado o golpe de misericórdia nos destinos do Estado soviético, fundado em 1922. E a figura, que emergiu, então, como o seu principal coveiro – Iéltsin – apressava-se a comunicar a boa nova – em «primeira mão» – a Bush (pai), para só depois informar o já totalmente desqualificado inquilino do Krémlin, Gorbatchov, do inconstitucional – e contrário à esmagadora vontade popular – desenlace.

No plano internacional, uma nova linha parece ter sido traçada. Para onde caminhará, no presente contexto mundial de agravamento de contradições e crise sistémica do imperialismo, uma Rússia capitalista que almeja deixar definitivamente para trás 20 anos de subserviência e (re)afirmar-se como potência, é uma questão que subsiste.
Na certeza, de que a escalada de tensões em que apostam os EUA e a NATO, só aumentará os riscos à paz e segurança do planeta, ameaçando empurrar a humanidade em direcção ao abismo.


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