Continuidade

João Frazão
Manuela Ferreira Leite descaiu-se. Na comunicação social dominante acharam todos normal e não atribuíram grande importância ao facto. Mas ela disse-o, com todas as letras, tornando declaração oficial aquilo que todos nós vínhamos afirmando.
A Presidente do PSD falava aos deputados, numa das suas raras aparições públicas desde que foi eleita.
Discorria uma vez mais sobre a magna questão das obras públicas, explicando que o PSD não é bem contra mas também não é favor, não sabe bem, venha alguém que desempate, tendo até lançado um repto à audiência para que «se alguém souber se são boas ou más, diga».
Como todos se tenham calado, inclusivamente os que têm a sua assinatura nos despachos que decidiram algumas delas, Manuela Ferreira Leite continuou a enrolar conversa, pois, até ali, os jornalistas ainda não tinham conseguido apanhar conteúdos para duas linhas de take noticioso.
Foi neste ponto que Manuela se desmanchou e, afirmando que Sócrates «sabe muito bem governar em tempos de grande prosperidade», reclamou que «como nós (PSD, entenda-se), quando formos para o governo, temos que dar continuidade a certas políticas do PS, é bom que sejamos desde já envolvidos e co-responsabilizados».
Há aqui algo de novo? Não. Já se cá sabia que Ferreira Leite era o vértice que faltava da cooperação estratégica que envolve o governo e o grande capital, sob a bênção e o olhar extremoso do Presidente da República.
Já por cá se tinha dito e escrito que o problema do PSD era que o PS estivesse no governo a fazer as políticas de direita que ele gostaria de concretizar. Só não se esperava que, à falta de assunto, viesse assim publicamente confirmar que, para o PSD, isto vai mesmo no caminho certo e que estas políticas são para ter «continuidade». E que, no entretanto, só lhes resta irem entretendo e reclamando umas migalhas, enquanto amargam à espera de chegar a sua vez de se sentarem à mesa do Orçamento.


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