«Portugal» malparado
Os portugueses estão cada vez mais caloteiros. A conclusão é do Banco de Portugal, que revela que só no que respeita aos empréstimos à habitação nos meses de Abril e Maio, o crédito malparado cresceu um milhão de euros por dia. Se a estes somarmos os créditos ao consumo, então a cifra ultrapassa os dois milhões de euros a cada volta que a Terra dá em torno do Sol.
São os salários e pensões de miséria que tornam os meses cada vez mais compridos; é a precariedade e o desemprego que fazem igualmente longos os anos contados em instabilidade e incerteza laboral; é o preço dos bens e serviços que não pára de aumentar; são as consequências de trinta anos de política de recuperação capitalista que lobos com pele de cordeiro impuseram devastando o pecúlio do rebanho – dirão os avisados.
Mas há quem não concorde e acuse os portugueses, considerados sem distinção de classe ou sequer de folha salarial, de serem gastadores, pouco precavidos, estroinas, como se a imensa maioria arrotasse a fartura que enche a pança da estreita minoria.
Assim pensa e diz o FMI, é preciso poupar, porque, revela, «Portugal (lá voltamos às acusações indistintas) vive acima das suas possibilidades há muitos anos». Mas de que «Portugal» falam estes senhores?
Para o FMI o problema não está na crise internacional, ao contrário do que diz o Governo, comissão executiva que até tem feito um esforço, a começar pela consolidação das contas públicas, frisam os senhores. O problema é doméstico e exige cortes nos salários dos trabalhadores do Estado, incentivos aos fundos de pensões privados, aprofundamento do «espírito reformista», manutenção do garrote sobre o investimento público.
Já percebemos. O «Portugal» de que falam estes senhores é o que paga sempre a factura das crises burguesas, sejam elas produto nacional, ou coisa importada. É o mesmo que o Banco de Portugal confirma não ter mais condições para aguentar letras e juros. É o tal «Portugal» malparado, mal pago, e ainda por cima inflexível às «modernas» relações de produção capitalista, agarrado a direitos, vínculos e acordos colectivos.
É esse mesmo de que fala o FMI, por isso avança mais uma dica. O Governo está no bom caminho em matéria de revisão da legislação laboral, deu «um passo em frente» ao promover o acordo com a maior parte dos parceiros sociais, no dizer dos senhores, mas no futuro é preciso alargar as causas do despedimento.
Ora aí está. Sem rodeios! Sobretudo quando existe uma «maioria» de parceiros dispostos, no futuro, sublinham os senhores, a permitir que o «Portugal» malparado seja posto no olho da rua.
No futuro, o secretário-geral da UGT, um dos parceiros da «maioria» que acordou a revisão da legislação laboral que o FMI diz ser boa mas não suficiente, voltará a dizer, como fez a semana passada, que afinal a proposta apresentada no parlamento pelo PS vai (ainda) mais longe que a subscrita pela «maioria». No futuro, talvez João Proença volte a dar o dito pelo não dito depois de um ralhete do ministro do Trabalho, e certamente voltará a assinar de cruz o que mandarem os senhores do capital. Mas no futuro, quanto malparado estará «Portugal»?
São os salários e pensões de miséria que tornam os meses cada vez mais compridos; é a precariedade e o desemprego que fazem igualmente longos os anos contados em instabilidade e incerteza laboral; é o preço dos bens e serviços que não pára de aumentar; são as consequências de trinta anos de política de recuperação capitalista que lobos com pele de cordeiro impuseram devastando o pecúlio do rebanho – dirão os avisados.
Mas há quem não concorde e acuse os portugueses, considerados sem distinção de classe ou sequer de folha salarial, de serem gastadores, pouco precavidos, estroinas, como se a imensa maioria arrotasse a fartura que enche a pança da estreita minoria.
Assim pensa e diz o FMI, é preciso poupar, porque, revela, «Portugal (lá voltamos às acusações indistintas) vive acima das suas possibilidades há muitos anos». Mas de que «Portugal» falam estes senhores?
Para o FMI o problema não está na crise internacional, ao contrário do que diz o Governo, comissão executiva que até tem feito um esforço, a começar pela consolidação das contas públicas, frisam os senhores. O problema é doméstico e exige cortes nos salários dos trabalhadores do Estado, incentivos aos fundos de pensões privados, aprofundamento do «espírito reformista», manutenção do garrote sobre o investimento público.
Já percebemos. O «Portugal» de que falam estes senhores é o que paga sempre a factura das crises burguesas, sejam elas produto nacional, ou coisa importada. É o mesmo que o Banco de Portugal confirma não ter mais condições para aguentar letras e juros. É o tal «Portugal» malparado, mal pago, e ainda por cima inflexível às «modernas» relações de produção capitalista, agarrado a direitos, vínculos e acordos colectivos.
É esse mesmo de que fala o FMI, por isso avança mais uma dica. O Governo está no bom caminho em matéria de revisão da legislação laboral, deu «um passo em frente» ao promover o acordo com a maior parte dos parceiros sociais, no dizer dos senhores, mas no futuro é preciso alargar as causas do despedimento.
Ora aí está. Sem rodeios! Sobretudo quando existe uma «maioria» de parceiros dispostos, no futuro, sublinham os senhores, a permitir que o «Portugal» malparado seja posto no olho da rua.
No futuro, o secretário-geral da UGT, um dos parceiros da «maioria» que acordou a revisão da legislação laboral que o FMI diz ser boa mas não suficiente, voltará a dizer, como fez a semana passada, que afinal a proposta apresentada no parlamento pelo PS vai (ainda) mais longe que a subscrita pela «maioria». No futuro, talvez João Proença volte a dar o dito pelo não dito depois de um ralhete do ministro do Trabalho, e certamente voltará a assinar de cruz o que mandarem os senhores do capital. Mas no futuro, quanto malparado estará «Portugal»?